Joias Fatais

Joias Fatais – Máfia, Romance e Segredos na Carolina do Sul

Oi gente, tudo bem com vocês? Quem acompanha o blog pelos stories viu que divulguei a nova parceria desse ano: a Leitura. Recebi uma caixinha recheada de novidades e o primeiro livro foi Joias Fatais. Li também A Hora Azul, de Paula Hawkins, mesma autora de A garota no trem. Em breve posto a resenha aqui no blog.

Colleen Coble é conhecida mundialmente por seus romances de suspense e ficção histórica. Joias Fatais, seu mais novo lançamento, traz o famoso ovo Fabergé como elemento principal de uma trama ambientada em Beaufort, Carolina do Sul.

Essa cidade lhe é familiar? É a mesma região da história Diário de uma paixão do autor Nicholas Sparks. Sabendo disso, é mais fácil se deixar envolver por esse enredo que possui elementos tão peculiares e ao mesmo tempo simples que encantam o leitor desde a primeira página.

A história

Carly Harris é ex-professora de história e atualmente trabalha com antiguidades. Ela viaja, participa de feiras, e escolhe os itens mais refinados para depois encontrar bons compradores; pessoas que valorizam aqueles artefatos tanto quanto ela.

“Gosto de palíndromos desde os tempos do ensino médio. Amo palavras, principalmente as pouco conhecidas. Os palíndromos são divertidos e provocam muitas conversas. Coleciono camisetas com palíndromos nelas. Murdrum é o ato de assassinar alguém secretamente.”

Ela é casada com o policial Eric Harris, mas seu casamento anda estremecido. Em grande parte devido a interferência de Opal, sua sogra, que tenta convencer o filho de que a esposa passa muito tempo fora de casa e isso pode prejudicar o casamento. Ao invés dele se posicionar, em alguns momentos acaba concordando com a mãe que a visita às feiras de antiguidades ocupa muito tempo e Carly fica longe em grande parte dos finais de semana.

Numa tarde Carly chega em casa e vê Eric caído no chão, ele foi atingido por um tiro. Mesmo sendo policial, ela não entende o que pode ter acontecido. A polícia local dá início às investigações, porém não descobre nada sobre o possível assassino ou ladrão. A princípio nada foi roubado ou desapareceu da casa.

Joias Fatais

“A casa proporcionava uma das melhores vistas da cidade, e as duas “árvores dos anjos” no gramado da frente atraíam a atenção dos fotógrafos amadores havia anos. Se um carvalho vivo se ramificasse e formasse raiz no solo antes de crescer novamente, seria um espécime extremamente valorizado da beleza sulista.”

Nove meses depois, Carly, agora viúva e mãe solteira, está morando com sua avó Mary em Beaufort, Carolina do Sul. Num dia mexendo no baú deixado pela sua bisavó, encontra documentos que mostram que sua avó foi adotada e tem uma irmã gêmea. Encontra também um ovo vermelho que se parece muito com o famoso Fabergé, ela então decide pesquisar na internet mais informações sobre o objeto. Após muita leitura ela tem quase certeza de que é um dos ovos perdidos que pertenceram à família imperial Romanov.

O que Carly não sabe é que tem muitas pessoas procurando por esse ovo. Roger Adams, dono de um antiquário; Dimitri Smirnov; a máfia russa; Ivan Bury, colecionador de antiguidades; além de policiais desonestos. Será que ela conseguirá mantê-lo a salvo antes de descobrir toda a verdade sobre a família biológica da sua avó? Por que Sofia Balandin abriu mão das gêmeas e desapareceu?

Para ajudá-la nesse desafio vamos conhecer o investigador de polícia Lucas Bennett; ninguém menos do que o irmão de Ryan Bennett, ex-namorado de Carly na adolescência. O namoro terminou por influência de Lucas que acreditava que ela estaria enganando o seu irmão ao dizer que precisava cuidar das irmãs após a morte da mãe. Será que agora, depois de adultos, Carly e Lucas conseguirão deixar as diferenças de lado e focar na segurança do ovo Fabergé e nas investigações?

Os personagens

Joias Fatais, diferente de A hora azul, possui mais personagens porém menos complexos. Carly é viúva, mãe solteira e está tentando se reencontrar na vida e no mercado de trabalho. Amelia, sua irmã do meio, é casada com Dillard mas seu casamento parece mais viver de aparências. Emily, a mais nova, tem espírito rebelde tal como uma adolescente.

A avó Mary é uma senhorinha muito simpática, sempre preocupada em ser agradável com todos e manter família e amigos bem alimentados. Isabelle é meia irmã de Carly, uma adolescente de 15 anos que guarda muitos talentos, entre eles cuidar de bebês e tocar piano lindamente. Ryan é aquele homem com espírito aventureiro, gosta de viver perigosamente. Lucas, seu irmão mais velho, é atencioso, correto, e gentil; qualidades que o tornaram meu personagem favorito.

“O choro fraco do bebê atravessou o farfalhar das folhas vivas do carvalho e da barba-de-velho. Os bebês deixavam Lucas desconfortável e ele tentou não ouvir o som. Como alguém poderia imaginar o motivo do choro de um ser humano tão pequenino como aquele? Seria necessário um arquivo cheio evidências para entender as emoções.”

Alguns personagens aparecem em segundo plano mas merecem certo destaque pelas reflexões que levantam, como Kelly, investigadora de polícia; Ivan Bury, colecionador de antiguidades; Kyle, pai de Carly; e Sofia Balandin, uma jovem mãe russa que entregou as filhas gêmeas para adoção.

Joias Fatais

Carly e a ‘síndrome da filha mais velha’

Carly, desde que sua mãe ficou doente, assumiu as responsabilidades da casa. Além disso, passou a cuidar das irmãs mais novas. Após a morte da mãe, Kyle seu pai vai embora e deixa as filhas para trás. A adolescente se vê sozinha tendo que criar Amelia e Emily e dar todo o suporte necessário. Pela ausência da mãe, Carly se viu obrigada a suprir todas as necessidades das irmãs para que elas não sentissem a ausência dos pais.

Isso fez de Carly uma mulher responsável, generosa, perfeccionista, temente a Deus, e que pensa no próximo em primeiro lugar. Se fosse possível escolher uma palavra para defini-la seria altruísmo. É uma pessoa que sempre põe as necessidades dos outros à frente das suas e muitas vezes abre mão dos próprios sonhos pelo bem-estar da família.

Se por um lado Carly foi a sustentação da família Tucker, por outro amadureceu muito mais rápido do que as meninas da sua idade. Enquanto outras meninas iam às festas, namoravam, e curtiam os amigos, ela se via numa rotina de “mãe” das suas irmãs. Esse foi um dos motivos que levou ao término do seu namoro com Ryan Bennett.

“E, ao longo dos anos, Lucas ouvira Eric falar o suficiente para saber que seu irmão havia escapado de uma bomba. Carly cantava de galo em casa e Eric não havia recebido da esposa o apoio que esperava. Mas seu irmão sempre foi cego quando se tratava de Carly Tucker. Como Ryan havia dito, ele era adulto. Era o dono de sua vida e poderia arruiná-la se quisesse.”

Esse comportamento faz com que Carly seja muito exigente consigo mesma. Quando recebe a herança da mãe ao completar 25 anos, seu primeiro pensamento é dividir o dinheiro com as irmãs, mesmo que seja a única beneficiária. Mesmo sem ter qualquer obrigação, seu senso de justiça a faz pensar nas irmãs mesmo que elas depois de adultas não a tratem da mesma maneira.

Esse senso de responsabilidade presente em Carly é discutido por alguns profissionais como a “síndrome da irmã mais velha”. Ou seja, é quando desde cedo os pais esperam que os filhos mais velhos ajudem a cuidar dos mais novos e também nas tarefas da casa. Numa família em que os pais trabalham fora fica a cargo do mais velho essa responsabilidade.

“Deveria ligar para o neto de Natalie Adams ou seria perigoso demais? Se ele estivesse ligado de alguma forma à morte de Eric, o telefonema poderia chamar a atenção para a investigação. Mas ele era a única pista que tinha.”

É interessante pensar que o oposto ocorre com menos frequência. Filhos mais velhos, do sexo masculino, são mais incentivados a fazer estágio, conseguir um trabalho de meio período, ou iniciar um curso, do que cuidar dos irmãos mais novos e fazer tarefas de casa. O que nos diz a maneira como meninos e meninas são criados desde a infância? Enquanto elas são incentivadas a cuidar da casa, ser uma boa esposa e ter filhos; eles são instigados a construir uma carreira, ter uma vida financeira estável e alcançar o sucesso.

O crescimento de Carly no decorrer da história nos mostra que mesmo tendo cuidado das irmãs, ter doado seu tempo pelos outros, sendo viúva e mãe solteira; ainda assim é possível lutar pelos próprios objetivos e realizar os seus sonhos mesmo que pareçam tão distantes.

“Ao levantar o ovo contra a luz, ela prendeu a respiração. A porcelana branca e luminosa brilhou nos raios de sol que entravam pela janela da cozinha. O objeto parecia ser ouro verdadeiro e Carly arregalou os olhos ao ver os detalhes.”

Se Liga Leitura

Carly e Lucas: uma segunda chance para o amor?

Enquanto Carly é viúva e mãe solteira, Lucas vem de um noivado que terminou por ele ser policial. Sua ex-noiva acreditava que não conseguiria viver todos os dias assustada com o que poderia acontecer a ele no cumprimento do trabalho. Desde então Lucas decidiu manter o foco na carreira e fazer o melhor possível pela comunidade onde mora. Porém algo dentro dele muda ao reencontrar Carly, sua antiga vizinha, após tantos anos.

Quando Carly pede sua ajuda para investigar o assassinato do marido ele fica inclinado a negar, no entanto, algo dentro dele aceita o pedido.

“O olhar dele pousou no bebê. Um bebê com o nariz e o queixo iguais aos de Eric. Lucas sempre foi motivado pela justiça e, embora Carly não fosse sua pessoa favorita, Eric a amara. E perdera a oportunidade de criar seu filho.”

No início ele continua vendo aquela adolescente, ex-namorada do seu irmão, e sempre preocupada com as irmãs. Mas aos poucos vai descobrir uma mulher muito mais segura de si, que deixou o passado para trás de certa forma, e que não vai medir esforços quando precisar defender a sua família.

A relação entre os dois conquista o leitor por diversos motivos. Enquanto Lucas mantém distância da ex-namorada do seu irmão, Carly se aproxima porque precisa de sua ajuda. Ambos estão vindo de relacionamentos anteriores que não deram certo, tiveram experiências decepcionantes, e criaram uma espécie de barreira emocional. No entanto, a convivência mais próxima vai mostrar que o tempo é capaz sim de mudar as pessoas.

“Os olhos cor de avelã e inteligentes de Lucas vieram-lhe à mente. Ele não parecia ser indiscreto e era investigador. Talvez ela pudesse confiar essas informações a ele.”

É interessante perceber como as pessoas antes de nos conhecerem têm uma ideia sobre nós. Conforme nos aproximamos descobrimos que a idealização nada se parece com quem somos de verdade. A relação de Carly e Lucas evolui dessa maneira. Enquanto ela o imagina frio, distante e responsável pelo término do seu namoro; ele acredita que ela é infantil, preocupada com coisas triviais, e que estragou seu casamento com Eric assim como o namoro com seu irmão.

Colleen Coble, no entanto, desenvolve uma relação muito próxima à realidade. Aquela em que cada diálogo, cada experiência compartilhada ou segredo contado é capaz de ir aos poucos diminuindo as barreiras e permitindo que o outro se aproxime sem precisar se defender ou esconder quem somos de verdade. É muito bonito perceber que mesmo com medo ambos estão dispostos a fazer dar certo (sem mais spoiler).

Joias Fatais

Lições sobre relacionamentos que não deram certo

Os relacionamentos em sua maioria são complexos, isso porque para dar certo é necessário a dedicação de duas pessoas e muitas vezes o que acontece é que apenas uma delas se esforça o bastante para que funcione. Em Joias Fatais a autora mostra quatro situações em que o amor não foi suficiente para manter a relação.

Quando a mãe de Carly adoece seu pai Kyle simplesmente se afasta, ele acredita não conseguir lidar com as filhas pequenas e a esposa debilitada. É nesse momento que Carly além de estudar, assume as tarefas domésticas e o cuidado das irmãs. Há um rompimento da idealização do pai como protetor e mais ainda como marido presente. Mesmo não havendo uma traição como a conhecemos, há uma desistência do que foi prometido. As promessas dão espaço à mágoa e decepção.

“A viagem não foi um completo fracasso – pelo menos ele havia saboreado um sorvete.”

A noiva de Lucas, por sua vez, o deixa por causa do seu trabalho na polícia. Para ela o fardo de ser esposa de um investigador é muito pesado. Teme que a qualquer momento receba uma ligação dizendo que algo de ruim aconteceu com ele. Como poderia ter uma vida tranquila sempre esperando pelo pior? Então eles decidem pôr um fim ao relacionamento. Por um lado ela foi egoísta e priorizou seu bem-estar. No entanto, se analisarmos friamente percebemos que ela pode estar certa. Para um relacionamento evoluir é preciso que ambos estejam bem.

O casamento de Amelia e Dillard aparece em cenas isoladas, mesmo assim é possível perceber que algo ali não está bem. Um relacionamento entre duas pessoas dá certo quando ambas têm um vínculo e mesmo assim conseguem manter a sua individualidade. Ou seja, eles agem como casais ou indivíduos de acordo com cada situação. O que vemos aqui é o oposto, tudo o que Amelia faz é para agradar o marido, deixá-lo confortável e fazê-lo sentir-se melhor. Ele, por outro lado, espera uma esposa perfeita, está sempre preocupado com o trabalho, e se mostra interesseiro quanto a herança que será deixada pela avó de Carly. É um tanto perceptível sua frieza e ausência de amor.

“Seus cabelos escuros e molhados brilhavam como se ele tivesse saído do chuveiro. Usava bermuda cáqui e camiseta vermelha que deixava à mostra seu peito e braços musculosos. Ela sabia que aqueles músculos eram resultado de levantamento de vigas e materiais de construção, não de frequentar academia.”

O casamento de Eric e Carly é repleto de camadas e desperta diversas reflexões. A primeira delas diz respeito a deixar pessoas de fora saberem o que acontece dentro do relacionamento, a relação deixa de ser íntima e passa a ser discutida pelos outros. Opal, mãe de Eric, acredita que para Carly ser uma boa esposa precisa ficar mais tempo dentro de casa. Enquanto viaja, participa de feiras e tem contato com futuros clientes, ela se distancia do marido. E isso, de acordo com a sogra, pode acabar com o casamento.

Quanto tempo é necessário para conhecer de verdade uma pessoa? Eric nos mostra que as pessoas sempre podem nos surpreender e que nunca sabemos suas reais intenções, ainda mais quando envolve dinheiro. É possível passar anos convivendo e mesmo assim manter uma vida dupla. Por que viver dessa maneira ao invés de simplesmente ser honesto e terminar o relacionamento? Talvez seja pela adrenalina, pela aventura, ou pela sensação de experimentar algo novo e diferente.

Um dos pilares que sustenta um casamento é a confiança. Quando esse sentimento se perde não há mais razão de estarem juntos. Em um determinado momento Eric age pelas costas de Carly, se aproveitando da sua generosidade e boas intenções. Motivo esse que a faz se afastar de suas irmãs. Um pequeno mal entendido que estremece a relação das três e a coloca como vilã e egoísta. É possível perdoá-lo após tantos erros? Além disso, após sua morte, Carly descobre segredos que ela sequer imaginou. Sua maior decepção é perceber que estava casada com um completo desconhecido.

Joias Fatais

Ovos Fabergé e a família imperial russa

Um dos elementos mais fascinantes trazidos por Colleen é a história dos ovos Fabergé. Lembro de ter visto a respeito na escola, quando estudei sobre a Rússia. No entanto, conforme fui lendo Joias Fatais, fiquei curiosa para mergulhar nesse tema e descobrir mais detalhes sobre os outros ovos. É incrível imaginar que há alguns deles perdidos e que historiadores, curiosos, e colecionadores do mundo inteiro ainda procuram por eles.

O primeiro ovo foi encomendado pelo czar Alexandre III como um presente de Páscoa para a sua esposa Maria Feodorovna. Ela gostou tanto que todos os anos, a partir de então, um novo ovo era encomendado a Peter Carl Fabergé. De acordo com registros foram produzidos cerca de 50 ovos entre os anos de 1885 e 1916. O mais interessante dessas peças é que eles guardavam uma surpresa em seu interior, que poderia ser feita de pedras preciosas como quartzo, diamante, jade, ágata, e rubi (este último escolhido pela autora).

“Alguém estaria no sótão? Ela tentou dizer a si mesma que poderia ser um esquilo ou um guaxinim, mas os movimentos que ouviu através do teto pareciam mais cautelosos e abafados, como se alguém estivesse tentando não chamar a atenção.”

Diversos jornais noticiaram que um ovo Fabergé foi encontrado num iate apreendido por autoridades norte-americanas em 2022. Se a obra de arte for autêntica, pode valer milhões de dólares. Outros ovos estão expostos em museus em diversos países da Europa e o público pode viver a experiência de conhecê-los de perto.

Suspense

Uma jovem russa e as gêmeas

Há quase 70 anos Sofia Balandin abriu mão das filhas gêmeas porque não tinha condições de criá-las. Durante a gravidez ela trabalhava num lugar que não permitia crianças, caso seus patrões descobrissem ela seria mandada embora. Como ela precisava do trabalho, a solução que encontrou foi entregar suas filhas para adoção. Ela não queria, mas foi o melhor naquele momento.

O que Carly descobre após todo esse momento é que sua avó é uma das gêmeas que foi adotada, e agora seu objetivo é encontrar a sua tia. Será que ela está viva? Sabe que foi adotada ou que tem uma irmã? Esse mistério norteia a protagonista capítulo após capítulo tornando a leitura ainda mais cativante.

“O aroma tentador de bom café atraiu Lucas ao balcão ao longo da parede. Serviu-se de uma caneca de café no bar de bebidas. O café dali não tinha resíduos. Bernard comprava seu próprio café gourmet e levava-o ao seu escritório. Usava uma cafeteira especial e guardava o creme em uma pequena geladeira, tudo pago com seu dinheiro.”

No episódio 5×18 de Cold Case uma jovem drogada após ter seu bebê pede dinheiro aos pais, mas eles negam porque acreditam que ela não se manterá sóbria para cuidar do recém-nascido. Seus pais a aconselham abrir mão da criança, levá-la para adoção pois assim terá uma vida melhor. Ela diz ter amor e isso é tudo o que seu filho precisa. Algumas histórias são baseadas em fatos reais e essa é uma das mais emocionantes pra mim. Pois mostra a linha tênue entre amar um filho e mudar por ele ou abrir mão para oferecer uma vida mais confortável.

Há alguma decisão certa ou errada? Quem pode julgar uma mãe desesperada buscando encontrar o melhor caminho? Ainda mais quando se sente sozinha e não há quem a ajude. Se Sofia tivesse mantido as filhas ao seu lado elas teriam uma chance? Ou elas foram mais felizes sendo adotadas por desconhecidos?

A Carolina do Sul que encanta com suas paisagens

Joias Fatais me conquistou pela ambientação. Quem me conhece a mais tempo sabe o quanto gosto de fotografar, e prestar atenção nesse detalhe em livros e filmes é algo que faço com frequência. A autora escolheu a Carolina do Sul como cenário desse suspense. Logo no início estamos em Pawleys Island, um lugar pitoresco e charmoso no litoral do estado. Nove meses após a morte de Eric, acompanhamos Carly em Beaufort, outra cidade igualmente charmosa.

Além dessas, vamos conhecer também Tybee Island e Savannah, ambas na Geórgia; e Beaufort, na Carolina do Sul. Quem é fã de Nicholas Sparks lembra que algumas de suas histórias são ambientadas em regiões litorâneas. Diário de uma paixão, Querido John, Um Porto Seguro, O Melhor de Mim são exemplos disso.

É quase impossível ler sem imaginar aquelas casas simpáticas à beira-mar, a maresia, os turistas, e o calor da alta temporada de verão. Em vários momentos durante a leitura fechei os olhos e consegui visualizar as ruas, as árvores, o céu azul, os pássaros cantando ao fundo, e a mistura do clima de suspense e romance que a autora soube mesclar de maneira tão primorosa.

Suspense

Noah

Essa foi a primeira vez que li um livro em que o autor deixa uma criança em evidência com tanta facilidade e doçura. Colleen descreve Noah de uma forma tão delicada, tão gostosa e cativante que ele te conquista logo nos primeiros capítulos. As mãos gordinhas, os pés balançando agitados, o sorriso desdentado, o cabelinho loiro, e claro os sons que emite sempre que vê alguém de quem gosta, como é o caso de Lucas.

“Noah mordeu o dedo dele por mais alguns segundos e voltou a enfiar a mão na boca. Lucas limpou o dedo molhado na bermuda. Talvez, cuidar de um bebê não fosse tão ruim quanto ele imaginava. Desde que não fosse necessário trocar fralda.”

Se fosse para escolher um momento que senti meu coração mais quentinho seria esse. A relação delicada entre Lucas e Noah. Do jeito que as cenas são descritas você consegue ouvir os gritinhos de Noah quando Lucas o pega no colo, quando agarra seus dedos e os leva à boca babando tudo ou ainda quando emite sons que parecem conversas de gente grande. Numa cena Lucas brinca dizendo que Noah será um rapaz muito comunicativo, achei tão engraçado.

Algumas cenas de Noah com Lucas são mais detalhadas e cheias de delicadeza do que dele com Carly, isso me chamou atenção. Creio que a intenção era mostrar o quanto os dois se deram bem desde o início e como estar perto do bebê mudou a percepção de Lucas em vários aspectos. Como não sentir aquelas mãozinhas gordinhas no seu rosto ou enroscando os dedos no seu cabelo? Conseguem imaginar essas cenas?

“Que tipo de mágica Lucas havia usado para que o bebê reagisse daquela maneira? Talvez Noah estivesse acostumado a estar entre mulheres e gostou da voz grave de Lucas. E não foi só o bebê que gostou. Carly tinha de admitir que a voz de Lucas ressoou no peito dela também, bem lá no fundo, com estranho poder.”

Curiosidades

– Os ovos Fabergé estão expostos em museus ao redor do mundo todo, entre eles o Museu Fabergé em São Petersburgo (Rússia), o Palácio do Arsenal do Kremlin em Moscou (Rússia), o Museu Fabergé de Ivanov em Baden-Baden (Alemanha), além de exposições temporárias nos museus Albert e Victoria em Londres.

– Pawleys Island lembra um pouco as paisagens do filme Querido John. Casas enormes, arejadas e de frente para o mar é um convite a reviver um dos muitos romances de Nicholas Sparks. As construções históricas são um charme a parte. A Capela, Galeria de Arte, e o Castelo Atalaya são alguns dos pontos turísticos mais visitados.

– ​Tybee Island, localizada na Geórgia, é uma pequena ilha conhecida como “a praia de Savannah” porque fica próxima a cidade. Um dos principais marcos históricos da ilha é o Farol de Tybee, construído em 1736. Este farol é um dos mais antigos dos Estados Unidos e continua em operação até hoje, guiando marinheiros na entrada do rio Savannah. The last song, Fly me to the moon, The menu, e The girl from Plainville são alguns dos filmes que tiveram suas cenas gravadas nesta região.

– Savannah é uma das cidades mais encantadoras e históricas dos Estados Unidos, situada no estado da Geórgia, às margens do rio Savannah. É famosa por seu Distrito Histórico, que contém várias praças arborizadas e ruas com belas construções do século XVIII e XIX. Esse nome é familiar? Chippewa Square foi cenário do filme Forrest Gump, aquele banco onde ele aparece contando sua história.

– Beaufort é conhecida por suas ruas largas e árvores gigantescas que fazem sombra lindamente. A avó de Carly mora numa casa histórica com vista para a cidade, no gramado em frente há duas “árvores dos anjos”. Os “Angel Oaks” são árvores imensas em largura e altura, e isso as transforma em atrações turísticas. O Reencontro (1983), filme com Glenn Close, Kevin Costner, Jeff Goldblum e William Hurt foi gravado nesta cidade.

– Charleston é conhecida por sua arquitetura histórica e pelas casas coloridas que dão vida às ruas antigas. No centro da cidade, os casarões com varandas elegantes e jardins escondidos parecem saídos de um romance. Perto dali, no porto, fica o Fort Sumter, onde o primeiro tiro da Guerra Civil foi disparado. Rainbow Row, uma fileira de casas em tons pastéis, se tornou um dos pontos mais fotografados da cidade. E para quem gosta de cinema, Charleston serviu de cenário para filmes como O Paciente Inglês (1996) e O Diário de uma Paixão (2004).

Joias Fatais

Minha opinião

Joias Fatais, diferente de outros suspenses que já li, foi uma leitura intensa e exigiu mais tempo e dedicação. Isso porque sempre que via um detalhe sobre a família imperial russa, colecionadores de antiguidades, museus, ovos Fabergé, ou aparecia uma cidade da Carolina do Sul, eu pausava a leitura e ia pesquisar. Esse exercício enriqueceu bastante e me fez ter outra percepção sobre o livro.

A escrita de Colleen é simples, cativante e cheia de detalhes que aguçam a curiosidade de um leitor atento. Seja pela ambientação, pela construção dos personagens ou pelos fatos históricos que norteiam o enredo. Mesmo sendo um suspense o foco esteve presente nos relacionamentos e como eles nos transformam no decorrer da vida.

“De repente, seus olhos cor de avelã se abriram e ela foi pega olhando firme para eles. O calor percorreu as bochechas dela por estar embevecida diante daquela visão. Ela limpou a garganta.”

Como filha de pais separados e irmã mais velha, me identifiquei com Carly em diversos momentos. Desde cedo fui ensinada que eu era responsável pelas minhas irmãs, que precisava cuidar delas, ficar atenta para que não caíssem e se machucassem, e se acontecesse algo a responsabilidade era minha. Isso fez de mim uma pessoa mais atenta e consciente.

Além disso, também aprendi as tarefas de casa. Minha mãe me ensinou a limpar, lavar/passar roupa, fazer comida, ir ao mercado, pagar contas, tricô/crochê, e outras coisas que me tornaram mais responsável. Acredito que ser educada dessa maneira contribuiu para que eu saísse de casa mais cedo do que as minhas irmãs. Mudei para uma cidade grande, consegui um trabalho, prestei vestibular, iniciei uma faculdade, tudo isso sozinha. Senti um frio na barriga em alguns momentos, mas ao mesmo tempo tinha coragem para arriscar e fazer dar certo.

“Pelo que ele se lembrava, a avó de Carly atravessava o quintal levando comida para a família e abraços para ele e Ryan. A infância deles teria sido muito diferente sem a calma presença de Mary em meio ao caos.”

Outro aspecto que pontuei são os diferentes relacionamentos ao longo da história e como eles se desenvolvem provocando o amadurecimento de cada personagem. Uma pessoa pode buscar a própria evolução, mas quando está numa relação o outro se torna espelho no qual defeitos ficam evidentes e impulsionam a mudança. Isso acontece entre Carly e suas irmãs, o contato entre elas é tão estreito que as imperfeições são perceptíveis.

Carly e Lucas também têm essa percepção. Quanto mais próximos se tornam, é mais fácil perceber as inseguranças de cada um. E o mais cativante é notar que um contribui para o crescimento do outro, não julgando ou desmerecendo, mas mostrando que é possível ser melhor.

“Em razão do vento forte, algumas mechas do rabo de cavalo de Carly caíram sobre seus ombros e a brisa quente deu um tom rosado às suas faces. Lucas conseguiu, de alguma forma, não a encarar enquanto manobrava o barco para fora da marina em direção ao sul, a Tybee Island.” 

Lucas é um personagem meio quieto, fala pouco, mas percebe tudo ao seu redor. Ele reflete muito antes de falar, é discreto e ao mesmo tempo solícito, sempre pronto a ajudar. Foi essa personalidade que me conquistou. Uma das cenas memoráveis de Joias Fatais é quando ele oferece a sua casa para a família de Carly enquanto a dela está sendo reformada. Lucas mora com Ryan há bastante tempo, e de repente a casa é tomada por mulheres, crianças e conversas sem fim. É tocante a maneira como a autora nos guia desvendando suas camadas uma página após a outra.

Muito obrigada Livraria Leitura pela experiência de ler Joias Fatais, gostei muito de passear pela Carolina do Sul e conhecer lugares tão bonitos e inspiradores.

Até o próximo post, Érika ♡


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