Dias de Areia

Dias de Areia: Uma Jornada de Autodescoberta

Oi gente, tudo bem? Quem acompanhou os últimos stories viu que chegou por aqui Dias de areia, uma obra de arte da Editora Nemo, da autora Aimée de Jongh. Digo obra de arte porque o trabalho gráfico mais uma vez me surpreendeu tanto quanto em Suzette. Sou apaixonada pela Nemo.

A editora é conhecida por trazer ao Brasil histórias tocantes, personagens inesquecíveis e autores talentosos. Aimée de Jongh, Fabien Toulmé, Daniel Clowes, são exemplos disso.

Um pouquinho sobre Dias de areia

Dias de areia vem contar a história de John Clark, um fotojornalista de 22 anos que mora em New York durante a grande depressão de 1929. Enquanto toda a população busca melhores condições de vida, John busca um emprego.

“O que faz uma boa foto?”

Ele é chamado para uma entrevista numa agência do governo em Washington que tem como objetivo mostrar a situação caótica em Dust Bowl, ou “bacia de poeira”, em Oklahoma. Uma região tomada pela areia que mais parece um deserto. Sem chuva ou iniciativa para trazer água àquela região muitos moradores estão morrendo por inalar a poeira, os animais devido à seca e falta de alimentos, e quem conta com a sorte e tem dinheiro guardado planeja se mudar para a Califórnia.

John não acredita, mas passou na entrevista e conseguiu a vaga que tanto queria. Sua missão? Fotografar todas as cenas que estão no seu roteiro: crianças órfãs, tempestade de areia, famílias indo embora, a fome, deixar registrado o quanto aquela região é castigada.

Num primeiro momento John sente que ganhou na loteria. Enfim será reconhecido pelo seu trabalho e pago por isso. Seu pai ficaria muito orgulhoso se soubesse o quão longe ele chegou. No entanto, conquistar os moradores daquela região não será uma tarefa fácil.

John, um forasteiro distante de casa

Primeiro porque John é um forasteiro. Se você já se mudou para um lugar novo sabe do que estou falando. As pessoas costumam ter uma certa resistência ao novo, ao diferente. Foi exatamente isso que aconteceu com ele. Ninguém queria conversar ou dar ouvidos às suas explicações.

Segundo porque acham estranho sua intenção de fotografar todo mundo. Por que as fotos? O que ele fará com elas? Será que realmente serão divulgadas? E a ajuda que John promete quando chegará? Esse receio faz com que os moradores o tratem com indiferença.

“… mudando um detalhe, revela-se a verdade escondida.”

Além disso, John quer “compor” algumas cenas. Como assim? Quer fotografar as crianças de um casal sozinhas e mostrá-las como órfãs. O que deixa um dos moradores com MUITA raiva pois não quer participar daquele “teatrinho” que John está planejando. Confesso que achei essa intenção de John um tanto estranha.

No entanto, sempre aparece um anjo da guarda quando a intenção é boa concordam? Esse anjo é Cliff, um menininho muito simpático que será o assistente de John. As cenas em que ele aparece rende algumas risadas. Cliff, mesmo sendo uma criança, dá informações bem valiosas e que ajudam no trabalho de John.

Dias de Areia

Conhecendo a família Watson

Após uma tempestade de areia fica simplesmente impossível sair do hotel em que está hospedado. Com bastante tempo para refletir John decide tentar abordar os moradores de outra maneira. Agora não mais usando a câmera e sim buscando conhecer de verdade aquelas pessoas, fazer amizades, e se interessar pelos seus problemas.

É quando conhece a família Watson. Um jovem casal que se mudou do sul para ter mais segurança e qualidade de vida. No entanto, foram castigados pelas tempestades de areia. Mas isso não lhes tirou o bom humor e brilho nos olhos. John descobre que o Sr. Watson perdeu duas filhas, ao inalarem aquela poeira ficaram doentes e o pulmão não aguentou.

Mesmo tendo arrumado suas coisas num caminhão para ir embora o casal resiste pois estará deixando para trás suas duas filhas, enterradas no quintal.

A jovem Betty Harrison

Essa abordagem diferente permite a John um novo olhar sobre aquela região. Como se um véu caísse de seus olhos e enxergasse as pessoas em sua totalidade e não apenas objeto do seu trabalho.

É nesse momento de epifania que conhece a jovem Betty Harrison e nasce uma grande amizade. A família de Betty é receptiva, acolhedora, e John se sente bem-vindo. Ele se questiona como uma família passando por tantas dificuldades consegue manter a serenidade? Gostei muito da família Harrison!

Em suas reflexões mais profundas John faz uma viagem interna questionando a si próprio sobre suas escolhas, decisões, e o que realmente deseja para a sua vida. Foi necessário uma viagem de mais de 2.000 km para encontrar a si mesmo. Uma viagem que mudará sua vida para sempre.

O que achei da edição

Se tem algo que não me canso é de engrandecer o trabalho incrível da Editora Nemo. A cada HQ que recebo minha admiração cresce ainda mais. Dias de areia me conquistou de um jeito diferente com sua atmosfera desértica, seus personagens simples, mas cheios de sentimentos. E tudo isso só foi possível sentir porque as ilustrações trazem consigo essa carga emocional.

Minha opinião sobre Dias de areia

Se eu escrevesse umas 20 páginas ainda seria pouco para transformar em palavras tudo o que senti durante a leitura. Gostei tanto dessa HQ que li duas vezes para ter mais propriedade ao falar sobre a proposta da autora. Se fosse elencar as melhores leituras de 2022 com certeza Dias de areia estaria nessa lista.

É um misto de sentimento a cada página, que é impossível não sentir empatia pelos moradores da bacia da poeira. Cada um com sua história, seus desafios, suas lutas, e sua razão de existir enquanto narrativa.

Como disse anteriormente, o personagem que mais gostei foi sem dúvida o Cliff. Uma criança sorridente, aberta ao novo, e muita curiosa (no bom sentido). Além, é claro, de amar fazer poses para foto. Gostei muito da amizade dele com John.

Algumas cenas renderam lágrimas (assim como em Suzette), outras foram divertidas, mas a maioria trouxe reflexões bem atuais.

Pequenas reflexões

Desde criança sempre me mudei bastante, de casa, de cidade, de estado, sempre conhecendo lugares diferentes, outras culturas, fazendo amizades ou deixando algumas para trás. Dias de areia de maneira sutil mostra o quanto as pessoas que passam pela nossa vida contribuem para a formação do nosso caráter. Muitas vezes não importando o tempo que ficam, mas sim a intensidade que se vive cada momento.

Sobre ser fotógrafa amadora

Ganhei minha primeira câmera analógica quando tinha uns 13 anos, uma Yashica. Sempre amei fotografar e levar os filmes para revelar. As vezes não tinha muito R$ e comprava filmes com 12 ou 24 poses. Então era preciso muito cuidado com cada cena, afinal eram APENAS 12 fotos. Consegue imaginar fotografar só isso? Mas eu amava pois me fazia treinar o olhar, cuidar a luz, a posição dos objetos, era uma foto genuína. Sem filtros, sem edição, sem manipulação. Bem diferente do que vemos atualmente.

Uma das maiores reflexões levantadas pela autora é justamente sobre o poder de uma imagem. Ou, como citado no livro “uma imagem vale mais do que mil palavras”.

Quando John é contratado em Washington recebe a orientação de “mostrar a verdade”, mesmo que para isso seja necessário manipular suas imagens. Que verdade há quando alteramos o que vemos? Ou quando mudamos a estética? Continua sendo verdadeiro?

Esse questionamento vem de encontro ao que vivemos atualmente nas redes sociais. Enquanto alguns defendem uma vida editada, mais bonita, instagramável, outros apoiam uma vida sem filtro, mais verdadeira. Há um jeito certo ou errado? Melhorar a iluminação, retirar manchas na pele, usar filtros que realcem a beleza, são consideradas pequenas mentiras?

John inicia então uma viagem interior na qual se questiona se nasceu para ser fotógrafo. Se aquele é seu propósito de vida. Se apenas mudar objetos de lugar e mostrar a verdade cumpre sua missão na bacia da poeira. Essa jornada de autodescoberta leva o leitor a questionar suas próprias decisões e sua vida.

De maneira singular a autora conduz o leitor a uma consciência sobre si mesmo. Justamente aí se encontra a grandeza de Dias de areia. Muito mais que uma HQ, uma reflexão acerca da vida.

Muito obrigada a Editora Nemo por me proporcionar uma leitura tão rica. Foi uma grata surpresa conhecer Aimée de Jongh.

Agora me conta, você também gosta de ler Graphic Novels? Conhece alguma da Editora Nemo?

Até o próximo post, Érika ♡


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9 Comentários

  1. Olá Érika, tudo bem?

    Não conhecia o livro ainda, mas já fiquei bem animada em saber que é uma HQ com um trabalho gráfico excepcional. Estou começando a ler HQ’s agora, então todas as dicas acabam sendo bem válidas. Acho que será uma história que também vai me emocionar e proporcionar momentos únicos. Vai para a minha lista!

    Beijos!

  2. Eu sempre mudei de cidade também, mas sempre dentro da Bahia, legal o livro e esse ponto em comum nosso. Abraços, Alécia <3

  3. As ilustrações realmente parecem ótimas, não conhecia a autora. Obrigada por mais uma dica de leitura 😉

  4. Nunca li graphic novel, aliás nem conhecia, fiquei curiosa e vou procurar por aqui. Quanto a história achei bem interessante, valeu pela dica!

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