Inesquecíveis – Algumas Histórias nos Marcam para Sempre

Oi gente, tudo bem? Quem acompanha o blog a mais tempo sabe que Fabien Toulmé é um dos meus autores favoritos desde que li Suzette. Este ano, a Editora Nemo, trouxe ao Brasil “Inesquecíveis” mais uma obra do autor francês.

Inesquecíveis, assim como Reflexos do Mundo, reúne histórias baseadas em fatos reais com o objetivo de mostrar o que torna um acontecimento memorável para diferentes pessoas. No decorrer da leitura conheceremos Émilie, Beatriz, Kévin, Marine, Marie e Gregory. Alguns nomes foram trocados para preservar a verdadeira identidade dos personagens. Descobrimos o motivo lendo cada uma delas.

“- Claro que bossa nova é melhor do que sertanejo!
– Haha, você diz isso pra me provocar, mas não adianta.”

Primeiro preciso elogiar mais uma vez as ilustrações. O trabalho gráfico é sempre primoroso. Os traços de Fabien Toulmé é de uma delicadeza que é impossível não reconhecer desde a capa. Um detalhe que chama atenção é que cada história tem sua própria cor (você vai perceber ao virar as páginas). Senti algo semelhante às cores que vemos no cinema. Quente, frio, tristeza, alegria. É interessante se atentar a isso, faz parte da experiência durante a leitura.

Em cada HQ tenho um personagem favorito e nessa não foi diferente. Vou falar um pouquinho sobre cada história e no final revelo de quem gostei mais, combinado?

A vida entre parênteses

Nessa primeira história acompanhamos a vida de Émilie desde a sua infância. Seu pai faleceu quando ela era criança, e alguns dias depois do enterro sua mãe seguia triste e sem esperança. Eis que apareceu em sua porta um representante da igreja Testemunhas de Jeová. Sua mãe o recebeu com certo receio, mas aos poucos Émilie, sua mãe, e seu irmão foram aprendendo mais sobre essa filosofia de vida. Conforme ela foi crescendo, descobriu que não podia fazer várias coisas as quais estava acostumada como festa de aniversário, comemorar o Natal, nem ao menos ter um namorado sem o objetivo de casar. Caso um dos participantes da igreja fizesse algo errado, deveria se pronunciar à frente de uma banca para que fosse perdoado pelo Senhor.

“Essa história aconteceu há 12 anos. Mas foi só esse ano que comecei a conseguir falar dela com mais tranquilidade.”

O coração e a vocação

Na sequência vamos conhecer Beatriz e Marcos. Ele desde pequeno tinha no coração que seria padre. Foi para o seminário estudar, e já na faculdade conheceu Beatriz, uma voluntária que trabalhava na universidade. Com o tempo eles se tornaram grandes amigos. No entanto, Beatriz se apaixonou por Marcos, mas ele não podia corresponder a esse amor porque sentia que seu coração pertencia à Igreja.

A carta de perdão

Na sequência mergulhamos na história de Marie. Uma jovem que mora sozinha na Bretanha. Num final de semana quando está prestes a viajar para visitar sua tia, seu namorado chega na sua casa meio bêbado. Ela não queria receber visita porque precisava acordar cedo, ele no entanto, se torna agressivo. Para não brigar ela o convida para comer e assistir um filme. Quando ela diz que vai dormir ele se insinua e acaba passando dos limites.

Preservar as lembranças

Saímos da França com destino à Ruanda, dessa vez vamos acompanhar Kévin. Sua família é francesa, mas devido ao trabalho de seu pai, eles se mudaram para a África Oriental. Mesmo sendo diferente da maioria das pessoas daquele país, Kévin conseguiu fazer amizade com os vizinhos, com as crianças que brincavam na rua, e se sentia feliz naquele ambiente. Até que houve uma Guerra Civil e eles precisaram se manter trancados dentro de casa.

“- Vamos ser repatriados.
– O que significa ‘repatriados’?
– Significa que vão nos levar de volta pra casa, pra França.
– Mas aqui é a nossa casa.”

O alinhamento perfeito dos planetas

Na penúltima história conhecemos Marine, de Loulousse. Também a acompanhamos desde a infância quando era escoteira e num dos passeios conheceu Frédéric. Após cada um voltar para sua casa eles começaram uma troca de cartas que durou anos. Quando enfim Frédéric decide abrir o coração e dizer que a ama, Marine o rejeita por estar com depressão e simplesmente o afasta. Isso abala a amizade entre os dois e a troca de cartas diminui nos meses seguintes. Mas como o próprio título diz, é preciso aguardar o alinhamento dos planetas.

A confiança da juíza

Para terminar essa HQ incrível vamos conhecer Gregory, que mora na França. Desde criança ele se sentiu tentado a fazer coisas erradas. Começou com pequenos roubos, venda de drogas, até que foi preso pela primeira vez. Esse tempo na cadeia ao invés de fazê-lo repensar suas atitudes, não, o fez conhecer e ter contato com pessoas “mais perigosas” do que ele. Após conseguir liberdade pela primeira vez ele decidiu levar uma vida honesta, no entanto aquela vida o chamou e ele acabou sendo preso novamente. Porém nem tudo está perdido e aparece alguém que pode ajudá-lo a mudar isso.

“Nos meses e anos que se seguiram, escrevemos um para o outro e, sem que ele dissesse claramente, acabei entendendo que ele gostava de mim. E tentei mostrar que gostava dele também. E então acabamos nos reencontrando 4 anos depois em Lourdes”

Minhas impressões

O que mais me chamou atenção lendo cada relato é que são situações reais, que marcaram os personagens entrevistados. Todos já são adultos e ainda assim relembrar certos momentos é como retirar a casca de uma ferida. Só quem passou por uma situação parecida sabe o quanto dói. A maneira como o autor mostra cada relato é ao mesmo tempo simples e respeitosa, cativando o leitor.

Uma característica que merece destaque é como Fabien Toulmé adapta cada história de acordo com o relato do narrador. Ele pega emprestado gírias, trejeitos e a profundidade que cada situação merece. Seja contando a história de um menino correndo pelas ruas de Ruanda, uma criança que acabou de perder o pai, ou um jovem que deseja ser padre. Cada personagem possui características próprias e isso os torna marcantes.

“Eu tinha 24 anos e precisava recomeçar minha vida do zero.
Primeiro porque não conhecia ninguém no ‘mundo exterior’.
Depois, porque precisei reprogramar meu cérebro.
Eu tinha que aprender a ter um posicionamento, uma opinião, e analisar cada coisa por mim mesma.”

A história que me deixou mais triste foi a de Kévin. O fato de sua família precisar deixar tudo para trás e ele ter que escolher apenas um brinquedo tocou meu coração. Pensei naquela criança, sem conhecimento nenhum de mundo; abandonar escola, amigos, seus brinquedos, e a segurança do lar que ele conhecia até então. Desde criança sempre gostei de ursinhos de pelúcia e pensei por um momento se eu precisasse escolher somente um. Que dor no coração. Seria um fato inesquecível.

Desde criança quando assistia filmes americanos tinha curiosidade sobre a rotina dos escoteiros. O uniforme, a venda de biscoitos, os acampamentos, as tarefas, sempre imaginei como seria ter aquela rotina. Não fui escoteira, mas estive num convento estudando para ser freira, então acredito que o senso de responsabilidade, organização, e respeito sejam semelhantes. Esse talvez seja o motivo que me fez gostar da história de Marine.

Minha história inesquecível

Numa dessas viagens ela conhece Frédéric e eles começam a trocar cartas. Se você é old school como eu vai sentir um gostinho de nostalgia. Lembrei de quando era adolescente e pegava endereço nas revistas estilo Toda teen e me correspondia com pessoas de diversos estados do país. Confesso que era muito divertido conversar sobre os mais diferentes assuntos. Acredito que nossa protagonista sentia o mesmo. O que evoluiu dessa troca de cartas? Você vai precisar ler para saber o desfecho!

Após a leitura dessa HQ fiquei me perguntando qual história da minha vida eu escolheria como “Inesquecível” para finalizar esse post. Vivenciei tantas coisas incríveis, aprendizados, alegrias, lições. Sair de uma cidade pequena sem perspectiva de vida e me mudar sozinha para a cidade grande foi sem dúvida um grande acontecimento. Olhando para trás hoje percebo o quanto fui corajosa, isso me ensinou que sou capaz de ir cada vez mais longe e lutar pelos meus objetivos.

Obrigada Editora Nemo e Fabien Toulmé por me fazer recordar dessa história com tanto carinho. E você leitor, qual a sua história inesquecível? Conta aqui nos comentários 🙂

Até o próximo post, Érika ♡