Querido Evan Hansen

Querido Evan Hansen | Um olhar sensível para a Saúde Mental

De um brilhante musical da Broadway para uma emocionante literatura, Querido Evan Hansen trouxe um novo olhar para os desafios da saúde mental e o verdadeiro significado de encontrar um lugar no mundo e não estar sozinho.

O livro, publicado no Brasil pela editora Seguinte – selo jovem da Companhia das Letras –, foi escrito por Val Emmich com o roteirista Steven Levenson, e a dupla de compositores, Benj Pasek e Justin Paul. Com esse time, posso dizer de peito aberto que esta é uma obra que canta e tem o ritmo majestoso de um musical!

Querido Evan Hansen, por Val Emmich

A história acompanha em primeira pessoa o adolescente Mark Evan Hansen, que prefere ser chamado apenas por Evan Hansen. Durante as férias de verão, quando fazia um trabalho de aprendiz de guarda-florestal, o garoto caiu de uma árvore e quebrou o braço.

O gesso o deixa inseguro para voltar à escola, mas sua mãe – uma mulher de meia-idade divorciada, que precisa conciliar o tempo entre o trabalho no hospital e cuidar de seu único filho – vê a situação como uma chance para o garoto fazer amigos. Pedir para alguém assinar o braço quebrado dele talvez fosse uma boa iniciativa.

Evan é um rapaz extremamente tímido, ansioso e que sempre teve muita dificuldade em interagir com as pessoas. Para ajudá-lo a mudar isso, ele precisa seguir as recomendações de seu terapeuta e escrever cartas para si mesmo com o cabeçalho otimista de sempre: Querido Evan Hansen, hoje vai ser um dia bom, e vou dizer por quê.

Parece uma atividade simples, mas é mais difícil do que parece.

“Às vezes essas cartas causam o efeito oposto do que deveriam. Elas deveriam deixar o copo meio cheio, mas, na verdade, me lembram de que eu não sou como todo mundo. Nenhum outro aluno da escola tem lição de casa do terapeuta (…). Não ficam nervosos e agitados toda vez que as pessoas chegam muito perto, falam ou olham para eles (…).”

Evan mal podia imaginar que uma dessas cartas viraria sua vida de ponta cabeça e colocaria muita coisa em jogo. E, como se não bastasse, era a carta em que pela primeira vez escreveu o que – de fato – sentia: a solidão, a impotência e a invisibilidade.

A confusão começa quando ela cai nas mãos de Connor Murphy, um aluno encrenqueiro e imprevisível, que se nega a devolvê-la, pois mencionava a irmã caçula, Zoe Murphy, única pessoa por quem Evan Hansen demonstrava um interesse especial.

Evan fica apavorado ao pensar como Connor usaria a carta contra ele para humilhá-lo e expô-lo para toda a escola, mas os dias se passam e nada fora do normal acontece, a não ser a ausência dos Murphy, que deixa o garoto ainda mais intrigado.

Após três dias de angústia, Evan descobre que Connor cometeu suicídio e sua família pensa que os dois eram melhores amigos, pois encontraram em seu bolso uma carta destinada ao Querido Evan Hansen. Com isso, os pais de Connor se agarram na esperança de conhecer mais sobre o filho que perderam através de Evan, pois nem mesmo a família de Connor imaginava que ele poderia ter um amigo tão especial.

Evan até tenta explicar a situação e dizer que não existia nenhuma amizade entre os dois, mas ele não consegue e acaba se envolvendo em uma bola de neve de mentiras e fantasias sobre uma falsa-amizade, apenas para ajudar a família a superar a perda do filho.

“Vejo como minhas palavras são importantes para eles. Faz bem proporcionar esse bem. É a coisa certa, fazer a dor deles passar, ainda que por pouco tempo.”

Embora soubesse que não era certo o que estava fazendo, Evan, por um lado positivo, conseguiu sair do anonimato na escola, se aproximou da garota dos sonhos e teve um papel importante para o memorial de Connor, reforçando o assunto sobre os cuidados da saúde mental. No entanto, a verdade por trás de tudo o assombra e pode vir à tona a qualquer momento.

E a pergunta que fica no desenrolar de toda essa fantasia é: será que Evan Hansen vai saber lidar com as consequências dessas mentiras? Ele vai contar a verdade ou ela cairá sobre ele feito uma bomba e destruirá tudo o que conquistou? Afinal, por que Connor Murphy tirou a própria vida?

Querido Evan Hansen

Impressões sobre ‘Querido Evan Hansen’

A escrita do autor é leve, imersiva e um pouco cômica, um ponto bem equilibrado para uma história que traz temas pesados e delicados. A construção dos personagens, dos diálogos e do enredo como um todo foram muito bem trabalhados. Assim como mencionei lá em cima, no início desta resenha, graças à colaboração dos compositores e roteirista do musical, a trama tem ritmo e parece cantar. Isto é, a leitura é agradável, lúdica e nada cansativa.

Ler o livro Querido Evan Hansen foi uma experiência muito boa e que trouxe diversos questionamentos pessoais e interpessoais sobre a saúde mental, emocional e cognitiva. Até que ponto temos o controle sobre nós mesmos?

No início, não concordei com as atitudes de Evan sobre criar uma fantasia com Connor para que os pais do garoto criassem uma imagem positiva do filho que perderam. Por que não falou logo a verdade para eles? No entanto, julgar é muito fácil.

Desde as primeiras páginas já entendemos que Evan Hansen tem uma dificuldade extrema para lidar com as próprias emoções e que muitas vezes é refém da ansiedade, que o impede de fazer o que quer e falar o que pensa. Fazer alguém feliz é muito melhor do que magoar. A culpa o mataria; por isso, o desenrolar desta bola de neve de mentiras é angustiante. Como Evan Hansen vai lidar com a verdade quando ela vir à tona?

“(…) Queria que tudo fosse diferente. Queria fazer parte de alguma coisa. Queria que alguma coisa que eu digo fosse importante, para quem quer que seja. Sério: alguém perceberia se eu desaparecesse amanhã? (…)”

Um ponto que me pegou de surpresa no livro e que senti falta no filme Querido Evan Hansen, também baseado no musical e protagonizado pelo ator Ben Platt como Evan, é a perspectiva de Connor Murphy. A sinopse do livro não diz, mas alguns capítulos trazem o ponto de vista de Connor no pós-morte.

Nestes capítulos, entendemos quem ele realmente era, o que pensava e o que o levou a tirar a própria vida. São partes dos livros que mais achei sensíveis e dolorosas de se ler, pois mostra tudo o que ele sentia e tinha para mostrar.

“Eles estão aqui, falando do quanto eu significava para eles. Como se identificam. Como sentem as coisas que eu sentia. O isolamento, a insignificância, a solidão. Mas como eles sabem como eu me sentia? Precisei morrer para perceberem que estive vivo um dia.”

Querido Evan Hansen é um livro que compensa muitas falhas presentes no filme do musical. A obra traz mais profundidade para os personagens, especialmente ao protagonista, mostrando não só suas condições mentais como suas inúmeras qualidades, sonhos e desejos.

Querido Evan Hansen

Sobre os autores

Val Emmich

Val Matthew Emmich é um escritor, cantor, compositor e ator. Além de Querido Evan Hansen, também escreveu Os prós e contras de nunca esquecer e The Reminders.

Steven Levenson

Steven Levenson é roteirista e dramaturgo conhecido por seus trabalhos no musical Dear Evan Hansen (Querido Evan Hansen) e indicado ao Oscar, Tick, Tick… Boom!. Em 2019, Steven foi indicado ao Primetime Emmy Awards.

Benj Pasek e Justin Paul

Benj Pasek e Justin Paul, conhecidos como Pasek e Paul, são uma dupla de compositores de diversos musicais, como Dear Evan Hansen (Querido Evan Hansen), La La Land, Trolls, Aladdin e outras obras com músicas incríveis. Trago um destaque especial à dupla, pois ler o livro enquanto ouvia a trilha sonora de Querido Evan Hansen trouxe uma experiência completamente diferente, mais emocionante.

Ouça as músicas do musical ‘Querido Evan Hansen’!

Esta é uma obra sensível, profunda e que deve ser lido por todas as pessoas que, um dia, já se sentiram deslocadas do mundo. Embora Evan tenha se metido em uma confusão enorme, seu amadurecimento emocional é inspirador.

O livro é muito bem diagramado, a preparação de Luíza Tieppo e tradução de Guilherme Miranda ajudam nesta leveza e ritmo que a trama original entrega. Além disso, a capa feita por Vitor Martins é sutil, mas o detalhe em relevo no gesso faz toda a diferença sensorial na leitura, pois enquanto segura o livro para ler, os dedos passam pela parte levemente “áspera”, dando a sensação de estar tocando em um gesso.

“– Mas, sabe, a questão é que, quando abri os olhos… Connor estava lá.
Ele sempre está. De alguma forma. Dia após dia, ele vem, em pensamento. Visões à noite. Seu nome no meu braço. Não importa o que eu faça, onde esteja, é um lembrete constante. Do quê? De quem eu sou.”

E você, o que achou da história do querido Evan Hansen? Já leu o livro, assistiu ao filme ou ouviu falar do musical?

Abraços e até a próxima, Amanda!

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20 Comentários

  1. Oi Amanda!
    Não conhecia o livro, nem as adaptações, achei interessante o enredo e tudo o que envolve. Fiquei aqui imaginando o que faria no lugar de Evan, tímido e sem amigos, pode ser fácil criticar, mas não temos noção da dimensão de sua dor de ser sozinho. Amei sua resenha, fiquei curiosa pra saber se ele conta a verdade ou se a mentira prevalece. Obrigado pela dica, parabéns para resenha, bjs!

  2. Ainda não tive a oportunidade de ler este livro, achei sua resenha bem completa sobre o assunto ainda mais neste momento tão delicado de saude mental. Beijos 🙂

  3. Adorei a resenha!
    Ainda não li o livro, nem vi o filme ou musical, mas parece ser ótimo e fiquei curiosa para conhecer mais da história.

  4. Depois de ler sua resenha, fiquei curiosa para saber se Evan vai ficar mesmo bem, como vai restabelecer a verdade sem ferir niguém, nem ele mesmo.Gosto muito de ler histórias assim, em que somos forçados a refletir.bjus

    1. Do início ao fim você se pergunta como Evan Hansen vai lidar com tudo, desde as mentiras aos problemas emocionais. É muito legal ver a construção da história em volta disso 😁

      Também adoro obras que te fazem refletir. Elas são necessárias 💙

  5. Oi! Eu adorei a sugestão de leitura 🙂 parece ser bem interessante. Vou por na lista de leitura 😉

    1. O livro traz muitas coisas que o filme não traz, mas ambos são bons!

      Se você gosta de histórias lúdicas, mas que te fazem pensar, Querido Evan Hansen vai ser ótimo!

  6. O tema é bem diferente, a ideia de escrever para si mesmo é difícil, já tentei uma vez… Vou procurar o filme!
    Abraços, Alécia 🙂

    1. Oi, Alécia!

      Quando assisti ao musical pela primeira vez, também tentei fazer o exercício de escrever para si mesmo… Mas é bem difícil. Escrever essa resenha foi fácil, mas listar as razões para o dia ser bom foi mais difícil do que pensei. Te entendemos Evan Hansen 🥺

      Assista ao filme, ouça as músicas e leia o livro! Sei que vai gostar 💙

  7. Ainda não li o livro nem assisti o filme, porém achei a história super tranquila, leve, uma história bacana pra ler, como você disse é uma obra sensível, gostei muito de conhecer a história, bjs.

    1. De fato, é uma história com temas muito sensíveis, mas muito bem trabalhados no livro. E tem um equilíbrio legal com o humor, então é uma leitura leve, que você se diverte, mas também para pra refletir 👀

  8. Já vi o anúncio desse musical, mas confesso que tenho um pouco de preguiça das historias de adolescente rsrs eu sei que é puro preconceito meu 😀

    1. Dê uma chance a história do querido Evan, ele merece 💙 hahaha
      O musical tem ótimas músicas que dá vontade de ouvir o dia inteiro, enquanto o livro tem uma leitura muito gostosa… Mesmo sendo uma história adolescente, tenho certeza que vc vai gostar se dar uma chance😊

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