Ghost World

Ghost World: Conflitos e Incertezas da Adolescência

Oi gente, tudo bem? Estou bem feliz que vocês estão gostando das indicações de HQs da Editora Nemo. Quando li Suzette fiquei surpresa com a profundidade dos personagens. Em setembro recebi Ghost World, de Daniel Clowes, e novamente fui surpreendida.

Daniel Clowes é um quadrinista famoso, suas ilustrações já apareceram em grandes veículos de comunicação entre eles The New Yorker, Newsweek, Vogue e The Village Voice. Também é ganhador de diversos prêmios incluindo um Pen Award de Obra de Destaque em Literatura Gráfica, Prêmios Harvey e Eisner, além de uma indicação ao Oscar.

Em 2001 a Graphic Novel Ghost World foi adaptada para o cinema trazendo no elenco grandes nomes como Thora Birch (Abracadabra), Scarlett Johansson, Steve Buscemi (Armageddon), Brad Renfro (Sleepers), Patrick Fischler (The Mentalist), T. J. Thyne (Bones), Marc Vann (CSI) e Joseph Sikora (Jack Reacher).

Ghost World é uma reflexão sobre os desafios e incertezas da adolescência. Traz à tona assuntos como o fim do ensino médio, relacionamento, primeiro emprego, frustrações, pressão social, existencialismo, e futuro.

Conhecendo Ghost World

Nessa HQ conhecemos Enid e Beck, duas adolescentes que acabaram o ensino médio e estão vivendo um dilema: o que o futuro lhes reserva? Enquanto Beck arruma um emprego de verão numa lanchonete, Enid está envolvida com a papelada da faculdade a pedido do seu pai. Acompanhamos as amigas em diversas situações durante o verão, o que será decisivo para suas vidas, ou não.

Um pouquinho da minha adolescência

A adolescência é um período conturbado de diversas maneiras. Você não é mais criança para ter certos comportamentos, mas também não é adulto para fazer tudo o que deseja. Ou seja, é o meio do caminho. Para a grande maioria dos adolescentes é difícil entender como viver essa transição.

Além disso, há as incertezas que carregamos dentro de nós. Prestar vestibular? Qual curso escolher? Mudar de cidade? Sair da casa dos pais? Casar? Formar uma família? Fazer novos amigos? Manter os antigos? O que esperar do futuro?

Minha família é católica e desde criança fomos educadas na igreja. Uma amiga da minha mãe jovenzinha decidiu entrar para um convento, estudar para ser freira. A cidade ficou muito orgulhosa por ter alguém disposta a servir a Deus. Como eu já havia estudado em colégio católico tinha curiosidade em saber como era. Então com 14/15 anos fui para um convento em Curitiba.

Daniel Clowes

Sobre sair de casa e amadurecer

Foi uma das melhores decisões que já tomei. Sair da casa dos pais nos amadurece de tal maneira que é impossível voltar a ser quem éramos. Aprendemos a ter responsabilidades, a nos cuidar, tomar decisões sem influência externa, e o mais interessante, descobrimos que o mundo é muito maior do que o nosso quartinho. Depois de aprender tanto, conhecer lugares, a vida que tínhamos parece tão pequena.

Apesar de sempre gostar muito de estudar, eu morava numa cidade pequena e nunca foi congitada a possibilidade de fazer faculdade. Não era uma opção, pelo menos não quando terminei o ensino médio. Mas, um tempo depois tive a ideia de mudar de cidade. Eu queria ir para uma cidade grande, arrumar um emprego, conhecer pessoas, nunca me imaginei morando no mesmo lugar para sempre. Sairia de lá mais cedo ou mais tarde.

Uma parte dos meus colegas do ensino médio ainda mora lá, casaram, tiveram filhos, e pensam o contrário de mim… não se imaginam morando em outro lugar. Engraçado não?

Quando crianças nosso círculo envolve os pais, a escolinha, a igreja, e os poucos vizinhos que conhecemos. Conforme crescemos esse círculo aumenta. A cada fase deixamos pessoas para trás e fazemos novas amizades. É normal haver distanciamento. Morei em tantos lugares desde criança que é quase impossível manter contato com todas as pessoas que conheci.

Mudar de cidade e conhecer um mundo novo

Mudar de cidade após o ensino médio foi uma ruptura. Se eu já tinha amadurecido quando saí para estudar no convento, dessa vez era um caminho sem volta, no bom sentido. Cidade grande, sem pais, sem amigos, procurando emprego, foi um verdadeiro aprendizado. Morei numa república durante um tempo e conheci umas meninas incríveis. Elas me incentivaram a estudar, prestar vestibular, agradeço muito tê-las conhecido.

Fiz faculdade, trabalhei, mudei de cidade, e mais algumas pessoas ficaram no passado. É difícil manter contato com a correria do dia a dia, ainda mais quando os amigos se casam, têm filhos, e criam sua própria rotina. É comum amigos seguirem caminhos diferentes, é o curso natural da vida.

Lendo Ghost World pela primeira vez

Esse foi meu primeiro contato com a escrita de Daniel Clowes. Gostei muito de conhecer Enid e Beck. Apesar de retratadas situações comuns do dia a dia o humor ácido das adolescentes deu um toque a mais. Elas são curiosas, aventureiras e um tantinho problemáticas. Características que percebemos desde as primeiras páginas. Com certeza já vivemos algumas delas.

A escrita do autor é leve e fácil, quando percebemos chegamos à última página. O que achei diferente nessa HQ é que são várias histórias como se fosse um gibi da Turma da Mônica. Ao invés de ser uma história linear como Suzette ou Dias de areia, são recortes do dia a dia de Enid e Beck.

Ghost World

Edição especial 20 anos

A edição que recebi é em comemoração aos 20 anos de Ghost World, a primeira vez que as amigas Enid e Beck foram apresentadas ao público, ou seja 1993. O que falar sobre o trabalho gráfico? Está simplesmente incrível. Mas o que me chamou atenção foi o material extra. Se você, assim como eu, é acostumado a comprar itens de colecionador vai gostar do que a Nemo reuniu nessa HQ.

Logo no início vem a pergunta “por onde elas andam?”. Aquele questionamento clássico de quem acompanha personagens marcantes. Que poderia ser traduzido como elas agora são adultas, será que casaram, tiveram filhos, o que fizeram da vida? É interessante as versões criadas porque deixa espaço para a criatividade do leitor. O prefácio escrito por Ramon Vitral é um tanto divertido, conhecemos um pouco mais sobre as garotas e sobre Daniel Clowes. Vale a pena ler com calma.

Agora o que me conquistou de verdade foram os esboços, rascunhos, e versões antigas feitas pelo autor bem antes de 1993. Surreal ver como tudo começou. O mais interessante é que vários locais, personagens e referências usadas na HQ existiram de verdade. Como, por exemplo, um carinha no ponto de ônibus, um casal estranho na lanchonete, a loja de discos. E tudo isso é explicado o que torna a experiência do leitor ainda mais completa. Descobri até que foram fabricadas na época bonequinhas da Enid e Beck, legal não?!

O que achei de Ghost World

É impossível não se identificar com as duas adolescentes. Seja pela pressão dos pais para fazer uma faculdade, arrumar um emprego, pela insegurança frente às mudanças, ou ainda pelo frio na barriga em ver seus colegas sendo bem sucedidos e você não ter “saído do lugar”. Com as redes sociais essa comparação ficou ainda mais nítida porque vemos o tempo todo as pessoas felizes, viajando, alcançando seus objetivos, é fácil sentir que ficou para trás.

O fato de a HQ ter sido escrita em 1993 mostra que tais sentimentos são mais comuns do que imaginamos. Quem nunca olhou para a vida de alguém e se sentiu como Enid?

Essa é uma característica que tenho gostado cada vez mais nas Graphic Novels da Editora Nemo, são histórias divertidas, com personagens marcantes e muitas reflexões sobre a vida. Ghost World não foi diferente.

Bom, essa foi minha experiência. Vocês já conheciam o autor ou leram alguma de suas HQs?

Muito obrigada a Editora Nemo por me proporcionar essa viagem aos anos 80/90. Amei as referências quanto a música, lugares, e claro a edição maravilhosa de aniversário 🙂

Até o próximo post, Érika ♡


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9 Comentários

  1. Olá Érika, tudo bem?

    Eu estou bastante nessa vibe de ler HQs, então é claro que já gostei bastante dessa dica, principalmente por ser uma história que parece trazer tantos temas importantes e que nos acompanham durante a vida. Ter várias histórias em um livro também é outro ponto que me deixa feliz. Adoro isso!

    Beijos!

  2. De fato a dolescencia é uma fase que requer atenção,paciência e muito diálogo, entre pais e filhos.Para auxiliar, uma boa literatura sobre o assunto que possa prender o jovem e ao mesmo auxiliá-lo a refletir melhor sobre o que sente, sua forma de viver e fazer escolhas, é sempre bem vindo.O livro indicado para seguir nesse caminho.Boas leituras sempre.

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