O Guardião Invisível

O Guardião Invisível: Uma Mescla de Folk Horror Com Investigação Criminal

O Guardião Invisível é o primeiro livro da Trilogia Baztán, de Dolores Redondo, publicado pela Editora Planeta. A trilogia teve seus direitos comprados pela Netflix e já está disponível na plataforma.

Uma jovem estudante é encontrada brutalmente assassinada nas margens do rio Baztán no povoado espanhol de Elizondo. As circunstâncias da cena do crime indicam um ritual macabro, o que faz com que, rapidamente uma força tarefa seja organizada a fim de investigar o caso.

Amaia Salazar é indicada para liderar a equipe de investigação e, além de encarar a inimizade de seus colegas homens que não concordam com a escolha, terá que lidar com fantasmas do passado, já que Elizondo foi a região em que nasceu e passou boa parte de sua infância, lugar que ainda guarda muitas lembranças doloridas de sua vida e lar de parentes queridos e outros não tão queridos assim.

“Esquecer é um ato involuntário. Quanto mais você quer deixar algo para trás, mais ele o persegue.”

a Narrativa de Dolores Redondo

Semelhante às narrativas de “Ninguém pode saber” de Karin Slaughter e “Objetos Cortantes” de Gillian Flynn, aqui em O Guardião Invisível temos uma trama bem focada nos dramas pessoais da protagonista, deixando, em muitos momentos, a investigação criminal em segundo plano.

A ideia da Dolores Redondo foi a de mesclar crenças da cultura basca, base da região de Elizondo, onde se passa a história, com uma trama de suspense policial. De início, achei esse recurso bem interessante, mas ao longo da narrativa percebi que muitos elementos se perderam dentro da história.

Demorei para entender o motivo de o Guardião Invisível, que dá nome à obra, ter sido apontado como suspeito pelos crimes já que os argumentos para tal eram pouco convincentes, na minha opinião. Por mais que já tenha lido thrillers que unem o sobrenatural com o real, como em O Outsider de Stephen King, por exemplo, a construção narrativa de Dolores Redondo não me convencia de que seria possível o Basajaun, um ser mitológico conhecido por seu cuidado e zelo com a floresta, ser responsável por crimes tão brutais.

Porém, refletindo ao longo da leitura, percebi que minha recusa foi um reflexo dos ideais da nossa protagonista, uma mulher que cresceu em meio às crenças pagãs, mas que se afastou completamente dessa cultura quando resolveu seguir uma carreira policial.

Dolores Redondo

“Não são tolices, fazem parte da cultura e da mitologia basco-navarra, e não devemos esquecer que o que agora é mitologia foi primeiro uma religião.”

Amaia guarda mágoas do passado

Exatamente por esse afastamento cultural é que Amaia Salazar, assim que volta para o povoado como líder de uma investigação criminal, sente o desconforto de muitas pessoas que cruzam com ela, mas o que mais a machuca é a insatisfação no seio de sua família representada por sua irmã mais velha.

Desde a primeira interação entre as duas, percebemos uma mágoa mútua que será desenvolvida ao longo da história, que culmina no meu capítulo preferido de toda a trama: quando finalmente descobrimos quais segredos do passado assombram Amaia Salazar todos os dias. Já se prepara para essa parte da leitura, pois é bem chocante e doloroso de ler!

“Há cem anos, 150 no máximo, era raro encontrar uma pessoa que declarasse nçao acreditar em bruxas, sorgiñas, belagiles, basajaun, tartalo em sobretudo, em Mari, a deusa, gênio, mãe, a protetora das colheitas cujos caprichos faziam o céu trovejar e chover granizo, imergindo o povoado na mais terrível das fomes.”

Mas, realmente, o ponto alto do livro é a aura mística que ronda toda a trama: as lendas bascas; a deusa da fertilidade Mari; a Belagile, algo bem parecido com uma bruxa e muitos outros seres místicos que nos são apresentados ao longo da narrativa.

Sem contar os poderes mediúnicos que se manifestam na família de Amaia, características que, espero, tenham mais destaque nos próximos livros da trilogia que ainda não foram publicados aqui no Brasil. O modo como o misticismo e as relações familiares daquele povoado se mistura com a investigação criminal conquista demais o leitor.

Por mais que de início pareça que a história será mais lenta, especialmente pelo estranhamento ao nos depararmos com elementos culturais tão distantes daqueles que conhecemos mais intimamente, logo a trama engata com reviravoltas tão inesperadas que não dá para largar o livro até terminar!

A parte da investigação é muito rica, conta com muitas especificações teóricas em que Amaia, que fez um treinamento especial no FBI, utiliza de várias técnicas de dedução para criar o perfil do assassino das jovens estudantes, um prato cheio para os amantes do true crime.

Editora Planeta

Livro x Filme

Enquanto lá fora O Guardião Invisível alçou a autora Dolores Redondo à fama internacional em seu livro de estreia, no Brasil conhecemos a história primeiro através de adaptação na Netflix. O sucesso do primeiro filme foi tanto que já estão disponíveis as adaptações que dão continuidade à história de Amaia Salazar: Legado nos Ossos e Oferenda à Tempestade, respectivamente.

O que é uma ótima opção para quem não quer aguardar a publicação do restante da trilogia e está curioso para acompanhar mais sobre essa investigadora com origem tão mística e curiosa.

Assisti apenas ao filme que adapta a trama do primeiro livro, O Guardião Invisível e, no geral, achei que o roteiro foi bem fiel à história original. Fiquei hipnotizada pela ambientação que retrata o povoado de Elizondo como sendo cercado por montanhas, cortado pelo rio Baztán, com habitações bem rústicas que dão um ar medieval para as ruas e tudo sendo muito cinza devido às chuvas constantes da região.

Se no livro os elementos místicos ora davam um ar misterioso e mágico para a história, ora ficavam um pouco perdidos dentro da história, no filme eu achei que esses elementos foram trabalhados com muita pressa e ficam mais em segundo plano, apenas como um recurso de suspense bem fraco.

Já sobre a reviravolta final da história, quando descobrimos quem é a pessoa responsável pelos crimes bárbaros que assolam o povoado de Elizondo, achei que no filme também ficou corrido, especialmente porque mudaram algumas características da história que, para mim, no livro funcionam melhor, são mais desenvolvidas e cabem na história de maneira mais coerente do que no modo que foram apresentadas na adaptação.

Apesar dessas pequenas mudanças, o filme funciona muito bem tanto como adaptação quanto obra independente, o que facilita o alcance maior para vários públicos.

Se você está procurando livros com um estilo mais Folk Horror, ou mesmo um thriller com uma pegada sobrenatural, leia O Guardião Invisível sem medo de se decepcionar! Depois assista a adaptação e me conta aqui nos comentários qual final você gostou mais 😉

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FICHA TÉCNICA

Título: O Guardião Invisível (Trilogia Baztán #1)
Autor: Dolores Redondo
Editora: Planeta
Número de páginas: 352
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Até a próxima, Dri!

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25 Comentários

  1. Oi Dri!
    Assisti o filme e fiquei surpresa com a adversidade do lugar…sombrio, calmo, escuro que sempre me deixava com uma interrogação, mas amei cada momento senti -me dentro da história e me coloquei diversas vezes no lugar da Amaia o desenrolar é lento, mas a cada suspeita e descoberta me senti próxima a achar o assassino fiquei com a boca aberta no final. Amei sua resenha fiquei com vontade de assistir de novo, não sei se lerei o livro, depois de ter assistido. Mas agradeço pela dica, parabéns pela resenha, bjs!

  2. Oi Erika!

    Não estava sabendo que a Netflix tinha comprado os direitos para adaptar essa trilogia. Confesso que minha curiosidade aumentou para ler este livro logo, por isso já estou adicionando na minha lista de desejados. Pela sua resenha, o livro é rodeado de mistério e contém uma história bastante interessante. Estou tão curiosa que vou acabar assistindo antes de lê-lo.

    Bjos

  3. Oie, tudo bem?
    Eu confesso que não conhecia o livro e nem a adaptação, mas já fiquei muito curiosa. Achei a premissa bem instigante e fiquei ainda mais empolgada quando você disse que o livro foca muito nos dramas pessoais dos personagens. Esse é um aspecto que sempre valorizo muito nos livros, então, fiquei bem empolgada para ler. E gostei de saber que, apesar de algumas mudanças, a adaptação foi fiel. Já vou adicionar o livro na minha meta de leitura e pretendo assistir depois que ler.
    Beijos

  4. Depois de ler sua resenha eu vou até dar uma chance pro livro rs. Assisti o filme e achei muito fraco, eu jamais diria que se trata de uma obra com essa pegada folk, todo esse lado sobrenatural fica muito subentendido, tanto que achei as visões da Amaia uma coisa muito estranha (e meio brega rs). Mas pela sua resenha esses elementos parecem ser muito mais bem trabalhados no livro, fiquei com bastante vontade de ler porque toda a ideia de retratar esse contexto basco é uma coisa muito interessante.

  5. Ainda não conheço a escrita da autora , mais o livro parece bastante interessante. Prefiro os livros do que o filme eles não dão mais detalhes , mesmo assim gosto de compara-los.

  6. Olá Érika,
    Achei bastante interessante a sua dica de leitura, apesar de não ter o hábito de ler esse gênero. Se tem na Netflix vou ver a adaptação. Pena que o final é diferente do livro!
    Bjs!

    1. Vale muito a pena tanto o livro quanto o filme, o final da adaptação muda alguns detalhes, mas a essência é a mesma 🙂

    1. Esse é um livro perfeito para começar no gênero de suspense policial, com bastante mistério, drama familiar e reviravoltas surpreendentes!

  7. Que legal que tem filme, eu adoro ler o livro pra depois assistir a versão cinematográfica. Já está anotada a dica. Bjks

    1. é muito legal a gente poder comparar né? geralmente eu sou uma leitora menos visual, então tudo é novo quando assisto alguma adaptação hahahha

  8. Gostei da frase que Esquecer é involuntário, parece mesmo um bom livro.
    Abraços, Alécia ❤️

    1. Essa coisa da memória e do passado que volta para assombrar é muito presente no livro, de tirar o fôlego :O

  9. Oi! Eu gostei da sugestão 🙂 a temática é bem interessante. Vou por na lista de leitura…

    1. Eu tb prefiro os livros, acho q a linguagem e a falta de restrição do formato me agrada melhor, mas o filme dessa história funciona muito bem tb 🙂

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