O melhor da amizade

O melhor da amizade uma reflexão sobre violência doméstica

Oi gente, como vocês estão? Aqui em Santa Catarina tem feito um friozinho, alguns dias até chove. Bom para tomar um chazinho quente e ler um bom livro. O escolhido dessa vez foi O melhor da amizade, de Lucinda Berry, publicado pela Editora Faro.

O melhor da amizade” é um romance psicológico que explora temas profundos e complexos, como a natureza da amizade, a lealdade, o perdão e o poder da vingança. A história é contada através de uma série de flashbacks que revelam gradualmente os segredos obscuros que três amigas guardam.

Conhecendo O melhor da amizade

As protagonistas são as amigas de infância Lindsey, Kendra e Dani, que têm personalidades muito diferentes. Lindsey e Kendra são amigas desde a infância, o que deixa Dani desconfortável por ter “chegado depois”. Sente como se não pertencesse ao grupo. Quando criança, Dani e Paul, marido de Kendra, eram melhores amigos. Mas depois que Kendra e Paul começaram um namoro sério, a amizade esfriou.

Kendra é a mais bem sucedida das três, ao lado do marido gerencia uma imobiliária de sucesso. Sua casa enorme, numa rua sem saída, deixa todos os vizinhos e amigos com inveja. Dani, por outro lado, depois que engravidou abriu mão da vida profissional para ficar em casa e cuidar das crianças. As amigas se formaram, casaram, compraram casa, e até engravidaram na mesma época. O que dá ao trio uma sensação de pertencimento.

Sendo assim, já esperavam que seus filhos também fossem amigos. O que acontece com Jacob, Sawyer e Caleb. Os três são inseparáveis. Jogam videogame, vão a festas, estudam no mesmo colégio, e trocam segredos. No entanto, algo parece mudar quando Jacob e Sawyer se tornam mais próximos por causa do futebol e Caleb se sente excluído.

❝A conversa teria se transformado nisto, e eu não desejava ter essa discussão com você. Eu queria um relacionamento que fosse todo meu e dissesse respeito apenas a mim para eu me sentir um indivíduo novamente. Sentia que não havia sobrado nenhuma parte só minha. Me desculpe se isso te magoa.❞

pág. 138

Tudo muda num final de semana

Num final de semana eles combinam de dormir na casa de um deles. O plano é se divertirem. Ouvir música, conversar, jogar videogame, até entrar de penetra numa festa que não foram convidados. O inesperado acontece! A vida dessas três famílias mudará para sempre. Um dos adolescentes morre, o outro fica em coma, e o terceiro se encontra tão traumatizado que não consegue nem ao menos falar sobre o que houve.

O detetive Locke dá início as investigações. Sua primeira impressão é de que as famílias estão escondendo algo e ele fará de tudo para descobrir todos os seus segredos. Até aqueles guardados a mais de 20 anos. Essa é a premissa envolvente de “O melhor da amizade”.

A história possui três frentes, na minha visão, o relacionamento das três amigas, a amizade dos meninos, e o mistério que ronda a noite do acidente. No entanto, quanto mais a polícia investiga, mais segredos vêm à tona. Desde inveja, relacionamento fracassado, violência doméstica, uso de drogas, vida de aparências, luto, até o que as pessoas são capazes de fazer para manter uma amizade.

❝Nos últimos dois anos, à medida que Jacob foi se tornando mais independente, nós nos distanciamos um pouco. É natural e significa que estou fazendo direito o meu trabalho, visto que o objetivo da maternidade é educar os filhos e torná-los indivíduos saudáveis. Um certo afastamento é consequência disso, mas não torna o processo menos doloroso.❞

pág. 145

Minhas impressões

Se eu pudesse resumir a leitura numa única palavra seria: tensão. Foi isso que senti durante boa parte do livro. É como se andássemos numa corda bamba. A autora soube criar uma atmosfera de curiosidade que mantém o leitor interessado para saber o que vem a seguir.

Um ponto interessante é como a autora trouxe a infância/adolescência de Lindsey, Kendra e Dani sem tornar a leitura maçante. Quando Lucinda Berry utiliza flashback para contar essa parte da história é curioso perceber que a mesma situação foi vista de maneira diferente por cada uma das amigas. O que para uma é um fato isolado, para outra define toda a sua vida dali pra frente.

Isso me fez questionar o tamanho da nossa responsabilidade enquanto coadjuvantes na vida daqueles que nos cercam. Até onde nossas ações têm consequências? Qual nossa parcela de influência na vida dos outros?

A Lara Nesteruk sempre diz que adultos são responsáveis por suas próprias decisões. Não podemos terceirizar a responsabilidade daquilo que nós mesmos escolhemos. Um dos motivos pelos quais as redes sociais determinam uma certa idade para uso. Quantas vezes ouvimos diariamente alguém dizendo “fui influenciada a comprar isso…”, “fui influenciada a fazer aquilo…”, mas se algo der errado a responsabilidade recai naquele que “deu a dica”. Já perceberam isso?

❝Não cresci em um lar violento. Nunca vi meu pai bater em minha mãe. Ele raramente ficava bravo com ela e, quando ficava, fazia o possível para não levantar a voz, pelo menos na nossa frente. Eles se amaram mútua e respeitosamente por trinta e sete anos. Coisas assim não deveriam acontecer com pessoas como eu, que cresceram em bons lares, com pais amorosos. Não sou como as estatísticas. Não faço ideia de como cheguei a esse ponto.❞

pág. 151
Lucinda Berry

A ausência de diálogo entre casais

Outra questão bem presente é a falta de diálogo entre os casais. Como é possível estar casada a tanto tempo e manter segredos do cônjuge? Ou pior, fazer coisas escondidas e pensar que o outro nunca vai descobrir? Acredito eu que casamento é cumplicidade, companheirismo, e acima de tudo, confiança. Se não confiamos no nosso parceiro, em quem poderemos confiar?

Paralelo a isso, há a ausência de diálogo entre pais e filhos. O que me fez recordar do relacionamento com meus próprios pais quando eu era adolescente. Como disse em posts anteriores, fui criada numa família católica, inclusive estudei um tempo para ser freira. Isso contribuiu, de certa forma, para que eu sentisse “vergonha” de perguntar ou conversar sobre certos assuntos com meus pais ou qualquer outra pessoa.

Alguns temas importantes como drogas, sexo, ou gradidez só eram comentados no momento de proibir. Acredito que todos os pais são peritos em proibições. Lembro que estava na sexta série quando conheci o livro O estudante, de Adelaide Carraro. O livro narra a história de um adolescente, bom aluno, bom filho, que de repente se envolve com drogas e a vida da sua família muda completamente. Essa leitura foi responsável por eu SEMPRE ter receio de experimentar drogas, bebida alcóolica, cigarro, ou qualquer outra coisa do gênero. Foi o melhor caminho? Talvez.

❝De inúmeras maneiras, minha casa nunca foi como o lar onde cresci, não importava o quanto eu tentasse recriá-lo. Embelezá-la ou manté-la limpa não fazia diferença: o amor que me envolve em um casulo seguro aqui nunca preencheu nossa residência da mesma forma.❞

pág. 185

Educar os filhos para o medo ou respeito?

Meu namorado sempre diz que os pais têm o papel de orientar os filhos e não enchê-los de medo. As crianças precisam desde cedo compreender o que é certo e errado para tomar boas decisões. Em parte concordo com ele, se não fosse essa insegurança, a falta de preparo e maturidade para a vida adulta, muitos não estariam ainda morando com os pais. Esse é um dos aspectos que eu, como leitora, percebi nitidamente em uma das mães que é superprotetora.

Quanto ao mistério envolvendo a morte de um dos adolescentes a autora consegue manter o mistério no virar das páginas. Um tanto maçante alguns leitores diriam, mas creio ser necessário para que a história se desenrolasse e a verdade viesse à tona. Quanto ao que ficou em coma foi tempo suficiente para que descobríssemos o que estava por trás do acidente.

O desfecho foi um tanto previsível, pelo menos pra mim. No meio do livro mais ou menos criei algumas teorias, e uma delas estava quase certa.

O que achei dos personagens

Em meio a tantos personagens imperfeitos quem se destacou foi Luna. Apesar da idade, de tudo o que passou desde criança, ela conseguiu ser madura o suficiente, sair de casa e deixar tudo aquilo para trás. E o mais importante, desejar uma vida diferente daquela que conhece. E quando quase perdeu as esperanças acontece um fato que muda sua perspectiva.

❝Kendra é egocêntrica demais para enxergar ou querer saber por que estou na casa da minha mãe com meus pertences no quarto de hóspedes. Ela consegue ser irritante e nociva a esse nível, embora hoje isso seja uma bênção.❞

pág. 211

Um olhar sobre os temas abordados

Assim como Nada fica no passado, O melhor da amizade, trouxe personagens problemáticos. Ou muito reais, alguns possam considerar. Talvez eu seja um tanto conservadora por não conseguir imaginar uma amizade sustentada por mentiras. Pior ainda, falar mal de pessoas que me são importantes. Fui criada numa cidade do interior, indo à igreja, e aprendi com meus pais a sempre dizer a verdade, e quando mentia ou fazia coisas erradas pedia perdão a Deus e confessava para o padre.

Em vista disso, imaginar Lindsey, Kendra e Dani guardando segredos umas das outras, mentindo, e pior, vivendo uma vida de aparências com medo de ser julgada, não me parece o melhor exemplo de amizade verdadeira. Ainda mais quando uma delas é apaixonada pelo seu marido. Você consegue se imaginar sendo amiga de uma pessoa que visita sua casa, convive com sua família, e AMA seu marido? Eu não conseguiria!

A autora aborda vários temas delicados como uso de drogas na adolescência, bebida alcóolica, mas o ponto forte da leitura foi retratar a violência doméstica. Um assunto atual e que merece atenção. Ainda mais quando a vítima não se vê como tal, não enxerga a situação dessa maneira, ou quando vê não tem a mínima idéia de como pegar suas coisas e ir embora. Nos casos de mães com filhos é ainda mais delicado porque se sujeitam a continuar o casamento por causa das crianças.

Drogas, bebida alcóolica e relacionamento com os pais

A Lara Nesteruk sempre comenta que no início do relacionamento já é possível ver indícios do caráter do companheiro. Demorei bastante tempo para entender o que ela queria dizer, mas hoje percebo o quanto isso é verdadeiro. Dificilmente uma pessoa muda 100% após o casamento. Se buscarmos na mente vamos identificar situações em que a pessoa agia de certa forma, e que não seria uma surpresa se isso acontecesse em maior proporção durante o casamento.

Uma amiga minha começou a namorar um rapaz uns anos atrás. Ele era meio violento, discutia por coisas sem importância, mesmo assim continuaram juntos. Se casaram, tiveram um filho, e as agressões aumentaram. Agora, além de brigar com ela, ele também batia na criança. Ela quis embora? Não. Na época era apaixonada por ele e pensava que nunca encontraria outra pessoa. Não queria de jeito nenhum ser mãe solteira. A família estava do lado dela e disse que poderia voltar pra casa junto com seu filho. Mas ela preferia manter o casamento de aparência.

Nem todas as mulheres têm ajuda ou dinheiro para deixar seus maridos violentos, mas há também aquelas que apesar de tudo ainda querem permanecer casadas pois sentem um amor cego pelo companheiro.

Concluindo, O melhor da amizade foi uma leitura densa, cheia de altos e baixos e questionamentos atuais. Um livro que vale a pena, ainda mais por nos fazer refletir sobre violência doméstica.

Agora me conta, já conhecia a Editora Faro? Ou a escrita de Lucinda Berry? Deixe seu comentário contando o que achou 😉

Até o próximo post, Érika ♡


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11 Comentários

  1. Oi, Érika! Tudo belezinha??
    Em primeiro lugar, adorei as fotos dessa resenha. Dão uma sensação bem gostosa… bem de lar! Sei lá. Achei aconchegante.
    Segundo lugar, concordo com seu namorado. Por mais que nós, os pais, precisemos mostrar os caminhos da vida, o certo e o errado, não temos que fazer como função colocar medo nos filhos. A vida por si só já é bem aterrorizante… Eles vão ter seus próprios medos. Prefiro ser abrigo.
    Sobre sua conhecida aí que continuou com o relacionamento conturbado, já é complicado. E ainda foi colocar filho no mundo pra sofrer junto! Que triste…
    Sobre a leitura, confesso que não sou perfil para essas obras. Eu me envolvo e sofro. E não sou muito adepta desse tipo de relação com a obra. Mas, tenho certeza que muitas mensagens a trama traz para quem dá uma chance pra ela. Eu que sou problemática mesmo.
    Adoro a editora. Adoro a qualidade desse papel!!! E não conhecia a autora.
    Grande abraço, querida.

  2. Eu juro que imaginei um thriller com esse enredo. Acho que daría um filme intrigante. E gosto de leituras que me botam em estado de tensao continua e crescente.. os personagens parecem bem construidos.

    Dramas familiares recheados de crimes, passados não resolvidos e afins sempre me atraem…
    Tschuss

  3. Olá! Não conhecia o livro e achei interessante, é o gênero de livro que gosto de ler, drama com tensão hahaha.
    Mesmo tendo alguns assuntos que parecem mais pesados gostei da dica de leitura.

  4. Aqui no sul o frio já chegou também, um bom chá e um livro é tudo de bom. Ainda não conhecia esse livro, parece interessante, mas eu particularmente tenho preferido leituras mais leves nos últimos tempos.

  5. Esse livro fala muito da nossa vida cotidiana pelo que pude ver, gostei, pretendo lê-lo pois me parece bem interessante, e eu gosto dessa temática!

  6. Esse livro ele trouxe muitas questões ótimas a ser exploradas, gostei muito da violência doméstica que autora abordou, nua e crua

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