A volta da chave Ruth Ware

A volta da chave – Ruth Ware

Oi gente, tudo bem? Quem me acompanha a mais tempo sabe o quanto sou fã de Ruth Ware. Tanto que já li todos os livros publicados no Brasil. Recentemente a Editora Rocco publicou A volta da chave, mais um suspense que promete nos manter acordados até a última página.

Quando li A mulher na cabine 10 lembro que foi uma das melhores leituras daquele ano. Primeiro porque nunca tinha lido uma história ambientada num navio. Segundo porque conheci os fiordes noruegueses, e assim nasceu minha vontade de conhecer e saber tudo sobre a Noruega. Terceiro, e não menos importante, o livro teve um dos melhores plots twists que já vi.

Ainda hoje, quando lembro da história, sinto o mesmo frio na barriga que senti da primeira vez. Depois li os outros livros da autora Em um bosque muito escuro (se você sente pânico de histórias ambientadas numa floresta, leia este livro!), O jogo da mentira, e A morte da Sra. Westaway.

Se fosse colocá-los numa escala do que mais gostei seria 1º A mulher na cabine 10, 2º A volta da chave, 3º Em um bosque muito escuro, 4º O jogo da mentira, e 5º A morte da Sra. Westaway. Mas leria todos eles novamente porque gosto muito da escrita dela.

A volta da chave

A volta da chave

O livro conta a história de Rowan Caine, uma jovem de 27 anos que trabalha como cuidadora de bebês. Num dia, fazendo uma pesquisa aleatória na internet, ela se depara com o anúncio da sua vida. Uma vaga de babá para morar no emprego, mais ajuda de custo, e um bônus tentador ao final de um ano de trabalho. E o melhor… na Escócia! Ela não pensa duas vezes e prepara todos os documentos para concorrer à vaga.

Uma criança foi assassinada. Rowan está presa. Ela diz não saber o que aconteceu. Durante toda a história vamos acompanhá-la tentando conseguir um novo advogado para defendê-la e tirá-la da prisão. Enquanto Rowan descreve para o advogado tudo o que aconteceu desde o momento em que viu o anúncio da vaga, nós leitores, também ficamos sabendo todos os seus passos até ali.

A filha de 10 anos do antigo dono da Residência Heatherbrae morreu envenenada. Dizem que ele ficou louco e precisou ser internado. Depois disso o lugar ficou completamente abandonado. O povoado conta muitas histórias sobre a mansão, uma delas é que pode ser mal assombrada. O que deixa Rowan sem dormir desde a primeira noite. Tudo isso dá um toque sobrenatural à história.

Iniciamos a leitura com diversas perguntas. Qual criança foi assassinada? Por que Rowan foi presa? Ela é a principal suspeita, por quê? Por qual motivo ela precisa de outro advogado? Questionamentos que serão respondidos a conta gotas, bem ao estilo Ruth Ware de ser. Se você já ficou curioso, espere até ler as 10 primeiras páginas!

Ruth Ware

A família Elincourt

A família Elincourt comprou a Residência Heatherbrae e reformou grande parte misturando o antigo e o moderno com toque de sofisticação ao tornar o local uma casa inteligente. Desde acender as luzes, fazer café, definir temperatura do chuveiro, à música ambiente. Toda a vida dos Elincourt cabe na palma da mão, e Sandra se orgulha de ter sido ela e o marido, Bill, os responsáveis por tamanha façanha. Indo contra os comentários do vilarejo que queriam manter a propriedade intacta.

“Mostrava uma casa, com quatro janelas e uma porta da frente preta brilhante, não muito diferente de Heatherbrae. As janelas estavam pintadas de preto com exceção de uma, que mostrava um pequeno rosto pálido espreitando na escuridão.”

pág. 57

Os Elincourt têm quatro filhas. Rhiannon, uma adolescente no colégio interno. Maddie de 8 anos, Ellie de 5, e Petra de quase 2 anos. No início a responsabilidade de Rowan será cuidar das três meninas mais novas. E, eventualmente, de Rhiannon quando estiver de férias. O que poderia dar errado cuidando de três anjinhos?!

Por dentro da história (A volta da chave)

No início do livro conhecemos Rowan ainda trabalhando na creche Pequeninos. Ela almeja ser promovida, mas outra moça com mais qualificações é escolhida. Então quando se depara com o anúncio da vaga, vê ali a oportunidade de conseguir um emprego que ganha mais e atende às suas expectativas.

O que Rowan precisa fazer para se tornar a babá perfeita e conquistar os Elincourt? Esse é o ponto de partida para conseguir o emprego dos sonhos. Cabelo bem penteado, roupas impecáveis, sorriso no rosto, paciência com crianças, e um currículo de dar inveja. Após enviar e-mail com suas informações ela conta os dias para receber uma resposta, seja ela positiva ou negativa.

Para sua surpresa, Rowan é chamada para a entrevista. É mais do que esperava. Agora é torcer para que as crianças gostem dela. O motorista vai buscá-la na estação de trem (quem lembra da cena de Harry Potter?). Uma pequena pausa para a divulgação de um Tesla elétrico e silencioso (momento compartilhado com meu namorado fã de carro). Quando o carro chega à mansão é que Rowan percebe o quanto a família é rica. Ela nunca tinha visto nada parecido.

“Enquanto eu fechava a pasta escarlate e a empurrava para longe de mim sobre a mesa, me perguntava: foram as perturbadoras mudanças de pessoal que tornaram Sandra tão controladora? Ou ela era apenas uma mulher tentando desesperadamente apoiar sua família, mesmo quando não podia estar fisicamente presente?”

pág. 99
Editora Rocco

A mansão Heatherbrae

A Residência Heatherbrae é uma casa inteligente, ou seja, há sensores de movimento, câmeras, painéis de controle em cada porta, sistema de som, e tudo o que você conseguir imaginar. A rotina da família é milimetricamente planejada, organizada. Sandra Elincourt tem um dossiê onde registrou todas as informações sobre as crianças. O que comem ou não, se têm alergias, livros que podem ler, horários de aula, banho, refeições, quando comer frutas, onde podem brincar. Qualquer dúvida que Rowan tiver pode consultar o dossiê, isso a deixa atônita. Ela nunca conheceu pais tão certinhos e rigorosos.

Mesmo admirada com um mundo completamente diferente daquele que conhece ela se esforça para dar o seu melhor na entrevista. Conhece as crianças, tenta ser amável e conquistá-las. Como está tarde e não há trens de volta para Londres, Rowan terá que dormir na mansão. Na gaveta da escrivaninha no seu quarto ela encontra um desenho infantil com um texto atrás.

“Para a nova babá, meu nome é Katya. Estou escrevendo este bilhete porque queria lhe dizer, que, por favor, seja…”.

Ao ler aquelas palavras passa milhares de teorias pela sua cabeça. Seja o que? Gentil com as crianças? Feliz na mansão? Confiante no novo emprego? Mas o que a deixa temerosa é “seja cuidadosa”. O que pode haver de perigoso na mansão? Como se já não estivesse assustada o suficiente, no meio da noite ela ouve passos no sótão. O que faz um frio subir pela nuca e a deixa paralisada.

Os fantasmas não vão gostar

Na manhã seguinte ela passa um tempo com as crianças e sente que dará tudo certo. Porém, antes de ir embora Maddie lhe abraça e pede para que Rowan não volte. Quando questionada a criança simplesmente diz que os “fantasmas não vão gostar”. Rowan é cética e não acredita nessas coisas, mas olhando para a mansão, relembrando os passos no sótão, o desenho em seu quarto, e o aviso de Maddie, é preciso pensar duas vezes antes de aceitar o emprego dos sonhos.

A volta da chave

Dias de espera e a volta à mansão

De volta a Londres e ao antigo emprego resta a Rowan esperar. Dias depois ela recebe uma mensagem de Sandra Elincourt. Ela mal consegue acreditar que todo esforço valeu a pena. Rowan é oficialmente a nova babá. Agora precisa correr contra o tempo para organizar suas coisas e se mudar para a Escócia e conhecer sua nova vida.

Logo que chega à mansão Rowan descobre que Sandra e Bill irão viajar a trabalho antes do esperado. O que significa que ela ficará sozinha com as crianças desde o primeiro dia. Ou seja, ela não receberá treinamento. O casal Elincourt se despede das crianças e Ellie, de 5 anos, fica desconsolada e sai correndo atrás do carro chorando sem parar. Depois desaparece no jardim. Maddie também desaparece, restando a Rowan cuidar de Petra, sorte que a bebê ainda não anda senão tinha sumido também (risos).

De noite, após colocar todas as meninas na cama Rowan vai se deitar para dormir. No entanto, de madrugada, ela é acordada com a campainha tocando. Assustada desce as escadas correndo, olha pela câmera e não vê ninguém. Ao invés de voltar a dormir, o que ela faz? Isso mesmo que você imaginou ela abre a porta. (parece que nunca assistiu um filme de terror haha)

“A luz noturna era muito suave e estava bem próxima ao chão para não mostrar muito, exceto as sombras ao redor das camas das meninas, mas, por um momento, no fundo da escuridão, pensei ter visto o brilho de dois olhinhos, olhando para mim.”

pág. 88

Tem alguém no sótão

Na segunda noite, também de madrugada, Rowan acorda assustada novamente. Motivo? Alguém ligou a música no último volume. As luzes da mansão estão todas acesas. E para piorar ela não consegue desligar porque seu acesso no tablet está bloqueado. Resta ao caseiro/motorista/faz tudo reiniciar o sistema e conseguir desligar a música. Mas nesse momento as crianças já se assustaram, choraram e Rowan não tem ideia do que aconteceu.

Além dos passos no sótão, campainha tocando, música ligando sozinha, a chave da cozinha simplesmente desapareceu. Rowan jura que trancou a porta e pôs a chave na soleira, mas não consegue achá-la. Agora terão que dormir com a porta aberta. (medo!)

Sentiu vontade de sair correndo dessa mansão? Pois eu sim, desde o primeiro instante.

Num outro momento Rowan chama o faz tudo para olhar o barulho que vem do sótão. Ele não tinha ideia da existência daquele lugar, e muito menos que ali estavam guardadas tantos objetos antigos. Se você já assistiu Anabelle deve imaginar o que Rowan sentiu quando viu uma caixa cheia de bonecas sem cabeça, sem braços e pernas, e aquela vontade de gritar quando uma cabeça sai rolando em sua direção. (até eu fiquei assustada nessa página)

Quer mais medo?! Por causa dos passos que ouve no sótão Rowan decide dormir no sofá da sala. No outro dia quando acorda o que tem no seu colo? Isso mesmo, a cabeça de boneca que ela viu no dia anterior. Como aquilo veio parar ali se o sótão está trancado? E mais, quem a trouxe? Alguém está trabalhando com afinco para deixá-la assustada. Mas será que vai funcionar?

Minhas impressões

Como disse no início sou muito fã da escrita de Ruth Ware. A maneira como ela escreve, o jeito de envolver o leitor, de deixá-lo curioso e querer desvendar todos os mistérios é simplesmente incrível. Em A volta da chave, pela primeira vez, a autora trouxe essa atmosfera sobrenatural. O que deu um ritmo totalmente diferente à narrativa.

Não aquele terror que vemos em Halloween, A hora do pesadelo, ou It, mas o frio na espinha de pensar se existe ou não fantasmas, ou que algo pode acontecer a qualquer momento. A autora soube trabalhar isso de maneira espetacular.

Os plot twists merecem um elogio à parte. Foram tantos e um mais intenso do que o outro. Se fosse escolher apenas um, votaria no primeiro. Era algo que eu não esperava. Fiquei um tempo pensando nas “pistas” ao longo da história que deixei passar. Se você também gosta de ser surpreendido, prepare-se!

Quem já assistiu Outlander sabe que é impossível não se apaixonar pela Escócia. O lugar que a autora escolheu para abrigar a mansão é encantador! (pelo menos na minha imaginação) Os bosques, as flores, o lago, a neblina, o canto dos pássaros, num momento é até citado O Jardim Secreto. Isso reforçou mais ainda a imagem que criei.

Quanto aos personagens merecem destaque a melhor amiga de Rowan. Ela largou o emprego e foi fazer um mochilão por vários países inclusive a Tailândia. Meu sonho fazer uma viagem dessa. E Rhiannon, que apesar de ser adolescente, é muito esperta e sabe como ninguém descobrir segredos. E se você curte uma certa nostalgia, vai lembrar que a melhor amiga de Olive (Emma Stone) em “A mentira” tem esse mesmo nome. Quando li essa parte só lembrei dela.

Temas importantes em A volta da chave

Embora o livro seja um suspense não deixa de abordar temas atuais e importantes como tecnologia, maternidade, relacionamentos, educação infantil, gradivez precoce, e a necessidade dos pais trabalharem e deixar as crianças com terceiros.

Meus pais se sapararam quando eu tinha 3 anos. Não tenho nenhuma lembrança dele. Mesmo depois que cresci nunca mantivemos contato, ainda mais morando tão longe. Minha mãe se casou novamente mas nunca aceitei meu padrasto como “pai”. Confesso que no início era mais um desconhecido, um intruso, e sempre desejei que meus pais reatassem. O que não aconteceu, claro.

“Eu as odiava – naquele momento. Mas também me via nelas. Uma garotinha difícil, cheia de emoções grandes demais para o corpinho, emoções que não conseguia entender ou conter.”

pág. 152
The turn of the key

Hoje, já adulta, consigo entender que manter um relacionamento é muito mais sério e exige mais esforço do que imaginamos quando somos crianças. Na maioria das vezes é melhor se separar do que seguir brigando na frente das crianças. Por outro lado, isso não justifica que filhos de pais separados possam agir sem pensar nas consequências. Sendo rebeldes, arrumando problemas, tirando notas baixas, etc.

Mesmo querendo que meus pais voltassem, nunca pensei em morar com ele, ou deixar a minha mãe e ir embora. Fiquei sabendo que ele se casou e tem uma nova família (esposa e filhos), mas contato como pai e filha nunca tivemos. Tenho curiosidade as vezes, penso como teria sido conversar com ele, ser levada à escola, ao shopping, até mesmo ao altar no meu casamento. Mas é algo que a cada dia fica mais distante.

Rowan Caine

Vamos falar da protagonista? A história é escrita em primeira pessoa o que nos faz duvidar um pouco da veracidade das informações. Como vocês sabem seus relatos costumam ser um tanto questionáveis. Não há outra versão então é preciso acreditar em Rowan.

O que mais me chamou atenção na personagem foi sua determinação em conseguir o emprego, não importando que para isso precisasse mudar de país. Quando ela decidiu, arrumou os documentos, se preparou para a entrevista, e deu o seu melhor.

“Aproximei a xícara dos lábios e tomei um gole longo e quente, sentindo a bebida escaldar a garganta, aquecendo-me por dentro. Pela primeira vez em alguns dias, senti minha confiança voltar.”

pág. 180

Por outro lado, mesmo dizendo ser cética quanto a existência de fantasmas, casas mal-assombradas e coisas do tipo, em alguns momentos Rowan transparece muito medo. Diria até que ela pensou internamente em ir embora e deixar as crianças. Mas claro, se isso acontecesse, não teríamos a história não é mesmo?

A volta da chave foi um dos livros que li mais rápido esse ano porque não queria dormir antes de saber quem ou o que estava por trás de tudo o que vinha acontecendo na mansão desde a chegada de Rowan. O final foi completamente inesperado, marca registrada de Ruth Ware. Se eu pudesse dizer apenas uma coisa seria “leia”! É um daqueles livros viciantes que você indica pra todo mundo porque espera ouvi-los dizer UAU!

Muito obrigada Editora Rocco por ter me proporcionado essa experiência. A oportunidade de ler A volta da chave foi incrível. E vocês conheciam esse suspense? Já leram algum livro da autora?

Até o próximo post, Érika ♡


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9 Comentários

  1. Posso te fazer uma pergunta, receando dar spoiler? Gosto de livros de suspense e gosto da Ruth Ware, mas não gosto de sobrenatural. Vc disse que o livro tinha uma atmosfera sobrenatural. Mas é? Pq se for não vou nem continuar a ler… poderia me dar essa resposta, por favor?

  2. Oie, tudo bem?
    Eu ainda não li nada da autora, mas ela está na minha lista para conhecer. Já tinha visto a capa desse, mas não sabia nada sobre a trama. Pela sua resenha, achei a premissa bem instigante e fiquei curiosa para conferir, ainda mais pelo final ter sido surpreendente. Adorei a indicação e vou colocar na lista.
    Beijos

  3. Este é um tipo de leitura que gosto muito. A ler seu artigo sobre o livro a gente vai aos poucos imaginando os fatos ocorridos com a personagem. É interessante quando olhamos para uma oportunidade como a que ela encontrou coisas importantes podem parecer desapercebidas. Está leitura também me fez associar a algumas séries.

  4. Eu gosto muito dessa autora, mas só li dela o em um bosque escuro e lembro que amei essa leitura, a autora é excelente em deixar o leitor angustiado. Eu não sabia que ela tinha mais obras lançadas no Brasil e vou já catar pro Kindle 😍

  5. Que demais, Erika. Essa é uma das minhas próximas resenhas. Eu sou meio enrolada… Mas, ela sai! hahahaa
    Eu também gosto muito da escrita da Ruth. Também leria os seus livros novamente. A pegada dela é muito atrativa pra mim. Seus plots me agradam. E nesse livro eu tava com uma mentalidade, até que naquele final, eu joguei tudo pra cima! Que lasqueira… me pegou com as calças na mão. hahahhahaa
    Muito bom! E mais uma vez aproveitei imensamente a leitura de um livro da autora.
    Que venham mais!!!
    Grande abraço

  6. Érika ! É sempre bom ler suas indicações porque você sempre joga tanta paixão no que escreve que é prazeroso ler. Eu fiquei imaginando que o desfecho da história toda está na própria figura da personagem de Rowam….

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