Madeleine, resistente

Madeleine, resistente – Jean-David Morvan

Oi gente, tudo bem? Quem acompanha os stories viu que chegou por aqui “Madeleine, resistente” o mais novo lançamento da Editora Nemo. Essa HQ é a realização de um trabalho em conjunto do roteirista Jean-David Morvan, do ilustrador Dominique Bertail, e da jornalista Madeleine Riffaud.

Madeleine, poetisa, correspondente de guerra, e também integrante da Resistência durante a ocupação alemã na França nos anos 1940 é co-autora dessa obra vencedora do prêmio René Goscinny de melhor roteiro em 2022.

– Como posso te chamar?
– Madeleine. Madeleine Riff…
– Shhh, não diga seu nome verdadeiro! Não tem um nome de guerra?
– Não, eu…
– Escolha um até nosso próximo encontro. O meu é Paul.

Quando Bertail assistiu um documentário sobre a Segunda Guerra ele encontrou ali a história inspiradora de diversas pessoas, mas nenhuma como o tocou tanto como a de Madeleine. Ele tentou entrar em contato e sugerir a ideia de uma HQ, porém, num primeiro momento ela achou que ele estaria brincando. Como alguém faria uma Graphic Novel sobre um tema tão sério?

No entanto, um amigo de Madeleine lhe deu um conselho. Já se passaram mais de 50 anos, são outros tempos, seria interessante que ela contasse a sua versão da história. Toda a sua trajetória desde que era uma criança e morava com seus pais e avós em Folies, Somme. Ela então, deixa sua personalidade resistente de lado e aceita o convite para escrever a sua biografia. E cá estamos nós.

Editora Nemo

Madeleine, resistente

Esse é o primeiro volume da trilogia que contará com riqueza de detalhes a vida de Madeleine Riffaud. A linha do tempo começa em 1931, quando ela era apenas uma criança morando numa comuna no interior da França. Num dia brincando com outras crianças, eles encontram na floresta um obus. Os meninos começam a brincar e pensam em desmontar a peça para vender o cobre.

No Exército Francês, o termo “obus” passou a designar apenas o projétil, surgindo o termo “obusier” (obuseiro) para designar a arma que o dispara. A designação “obuseiro” foi também adotada pelas forças armadas de alguns outros países que sofreram influência da doutrina militar francesa.

Nesse momento, a mãe de Madeleine a chama para almoçar. Ela sai correndo porque não quer que os adultos descubram as peripécias das crianças. Pouco tempo depois, mãe e filha, ouvem o estrondo. A granada explodiu e matou todas as crianças. Naquele momento Madeleine sentiu o quanto a guerra poderia ser triste e lhe tirar pessoas tão queridas.

Quando seu pai é convidado para o front, ele tem a ideia de deixar sua família junto com amigos em outra comuna. Mas, antes que possam chegar ao destino as tropas alemãs usam stukas para atacar o pequeno vilarejo. É nesse momento que o avô de Madeleine se machuca ao tentar salvá-la no tiroteio. Ao chegar a Amiens a família se depara com a ocupação alemã.

O Junkers Ju 87, popularmente conhecido como Stuka (do alemão Sturzkampfflugzeug, bombardeiro de mergulho, pronunciando-se: “Xstuca”), foi um bombardeiro utilizado pela força aérea alemã (Luftwaffe) e pela Regia Aeronautica Italiana durante a Segunda Guerra Mundial.

Madeleine Riffaud

O sanatório

A família se separa e Madeleine fica aos cuidados de uma conhecida. Os dias passam e se descobre que ela está com tuberculose. Seu pai usa toda a influência que tem para mandá-la ao sanatório onde será bem cuidada. O sanatório é distante de tudo, fica em meio às montanhas, onde conseguimos enxergar árvores e neve (nesse momento recordei a leitura de O Sanatório, que também era distante e ficou sem comunicação devido a uma nevasca).

É nesse lugar que ela conhece Marcel Gagliardi, seu primeiro amor, e sua vida mudará completamente.

O maior desejo de Madeleine é fazer parte da Resistência, mas, até então ninguém falava a respeito. Uns por não saberem, outros por medo, outros ainda para manter suas atividades em segredo. A amizade com Marcel, no entanto, permite a Madeleine conhecer os primeiros “camaradas”. Ela inclusive sofre o primeiro trote e se enche de coragem pois se sente pronta para fazer parte do grupo.

O responsável pelo grupo do qual Marcel faz parte tem receio do relacionamento dele com Madeleine. Ele sabe que os soldados não perdoam traição, e a maneira mais fácil de arrancar informações é torturando o cônjuge. Será que Madeleine será forte o suficiente? Conseguirá ela fazer parte da Resistência e lugar contra a ocupação nazista?

Minhas impressões

Primeiro quero elogiar a edição lindíssima da Nemo. É impossível não notar os tons de azul usados para dramatizar a história. A cor escolhida trouxe mais impacto do que se tivessem usado P&B. As ilustrações de Bertail merecem um elogio a parte. Conseguimos captar a tristeza, a raiva, a passagem do tempo, sempre prestando atenção nos pequenos detalhes.

Essa HQ tem pouco mais de 100 páginas, e consegui lê-la num único dia de tão envolvente que é a história. Imaginar uma criança crescendo numa zona de conflito aperta o coração, ainda mais no momento em que ela perdeu os três coleguinhas que encontraram uma bomba que explodiu acidentalmente.

Dominique Bertail

A perda do avô que ela tanto gostava, a separação da família, a tuberculose, tornou a vida de Madeleine uma verdadeira saga pela sobrevivência. Não saber em quem confiar, manter segredos de todos (inclusive da família), e se fortalecer dia após dia torna nossa protagonista uma sobrevivente.

É inconcebível pensar que existam ou existiram pessoas como os nazistas que atacaram, mataram, e fizeram sofrer seres humanos inocentes de outros países. Que nada tinham a ver com seus objetivos sórdidos.

Percebe-se pela evolução da história que Madeleine foi se tornando ao longo dos anos uma combatente. Desde aprender a dirigir, usar armas, se esconder, guardar segredos, e cumprir pequenas missões. Todos os acontecimentos foram como uma escola para torná-la uma heroína de guerra. Mesmo que em sua biografia ela não aceite esse elogio.

A sua coragem, bravura, e perspicácia foram extremamente necessários e importantes em sua jornada.

O primeiro volume termina num momento delicado, é impossível não ter curiosidade em saber quais serão seus próximos passos. Mas sabendo que trata-se de Madeleine, conseguimos prever ou imaginar qual será a sua decisão diante dessa encruzilhada. Afinal, um bem maior requer sacrifícios, concorda?

A edição da Nemo

O que mais gostei nessa primeira HQ foram as ilustrações contando como Bertail conheceu Madeleine, e como ela foi resistente em criar um quadrinho contando a sua história. Soam divertidas mas ao mesmo tempo cheia de detalhes. Ao final dessa HQ o autor mostra informações extras sobre os locais citados por Madeleine, como o sanatório, a praça onde ela ficava lendo seus livros, e as amizades que fez ao longo dos anos. É como aquele material extra que vem no DVD de colecionador.

Bom, essa foi a minha experiência lendo Madeleine, resistente. Agradeço a Editora Nemo pela oportunidade, já estou ansiosa pela continuação. Qual o papel de Madeleine na Resistência? Será que a ocupação alemã a descobriu?

Conheça esta outra HQ da Nemo: Colaboração horizontal

Até o próximo post, Érika ♡


Nos acompanhe nas redes sociais
Facebook ♡ Instagram ♡ Twitter ♡ PinterestTikTok

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *