Sessenta Primaveras no Inverno

Sessenta Primaveras no Inverno – De Jongh & Chabbert

Oi gente, como vocês estão? Chegou recentemente “Sessenta Primaveras no Inverno“, de De Jongh & Chabbert, o mais novo lançamento da Editora Nemo. Uma HQ lindamente ilustrada e com uma história muito inspiradora.

Quando leio um livro, assisto um filme ou série, sempre tento aprender algo novo ou tirar algumas reflexões para a vida. Com a história de Josy não foi diferente. Sabe aquela história de vida que levamos dentro de nós e nos faz pensar nos dias seguintes após a leitura? Sessenta Primaveras no Inverno faz isso com a gente.

Leia ouvindo (trilha sonora do livro) =)
SESSENTA PRIMAVERAS NO INVERNO

Josy é uma senhora que está prestes a completar 60 anos. No dia do seu aniversário, enquanto sua família está reunida preparando o almoço de comemoração, ela está em seu quarto organizando a mala para ir embora. Quando seus filhos colocam o bolo de aniversário na mesa e estão prestes a cantar, Josy levanta e anuncia que vai embora.

Não embora da festa, mas da sua casa. Ela pega sua mala, entra na kombi vermelha e branca e simplesmente dirige sem destino certo. Seus filhos e marido saem correndo atrás dela mas não conseguem alcançá-la.

Após algum tempo dirigindo eis que Josy chega a um camping. Lá ela conhece Camélia, mãe solteira de Tom, uma jovem muito simpática e tagarela. As duas logo se tornam amigas.

Um dia Camélia convida Josy para ir à uma festa na casa de sua patroa, ela resiste pois não conhece ninguém e se sente deslocada. Porém, no último momento decide ir.

Chegando lá Josy se depara com várias senhorinhas simpáticas. Bem arrumadas, falantes, e a recebem com muita hospitalidade. Martine, criadora do CVL (clube das vilãs livres) lhe dá as boas-vindas. E agora, ela já não está tão sozinha quanto quando deixou a sua casa.

Aquelas mulheres trocam receitas, bebem, saem para se divertir, e o melhor, encontram naquele grupo uma razão a mais para viver e aproveitar a vida.

A vida de Josy será diferente de agora em diante. Ela terá as rédeas em suas mãos e será responsável pelas próprias decisões.

Aimée de Jongh
POR DENTRO DA HISTÓRIA

Quem me acompanha a mais tempo sabe o quanto sou fã de histórias com personagens idosos. Alguns exemplos são Minha avó pede desculpas, Gente Ansiosa, Britt-Marie esteve aqui, Um homem chamado Ove, e muitos outros. Geralmente essas histórias trazem personagens com uma grande bagagem de vida, reflexões profundas sobre nosso papel no mundo, o caminho que trilhamos, e como tudo o que fazemos influencia de alguma forma aqueles que nos cercam. Sessenta Primaveras no Inverno segue por esse caminho.

Josy está completando 60 anos. Há 35 é casada. Criou os filhos, ajudou a criar os netos, mas agora descobriu que não o ama mais. Que não sente nada além de carinho. E somente isso não é capaz de fazê-la permanecer casada. Ela perdeu o encanto pela vida e não sabe o que fazer. Não quer mais um relacionamento sem amor, emoção, ou aquela expectativa do início do romance.

Então ela simplesmente decide ir embora, sem nem olhar para atrás.

Seus filhos ficam atônitos, nunca imaginaram que a mãe seria capaz de fazer algo assim. Eles ligam, mandam mensagem, porém Josy ainda não está pronta para encará-los e explicar a situação. De certa forma isso só piora porque os filhos, como na maioria das famílias, escolhem um lado para “defender” e não é o dela.

Ou seja, os filhos sentem pena do pai que foi abandonado e acusam a mãe de destruir a família.

Após dirigir por algum tempo Josy chega a um camping e logo faz amizade Camélia. Ela é mãe solteira, seu filho Tom tem 8 meses. A moça mora num trailer velho, e a criança conquista Josy assim que se conhecem.

Com o passar dos dias as duas se tornam inseparáveis. Josy aproveita esse tempo para fazer compras, ir à livraria, cuidar das plantinhas, ir à cafeteria, comer guloseimas, aproveitar a liberdade recém conquistada. No entanto, seus filhos ligam diariamente, mas ela ainda não está pronta para enfrentá-los.

CVL (CLUBE DAS VILÃS LIVRES)

Camélia, por achar Josy um tanto solitária, a convida para uma festa na casa de sua patroa. Mesmo relutante acaba aceitando. Na festa Josy conhece Martine, ninguém menos que a criadora do CVL (clube das vilãs livres). Sim, você leu certinho. É um clube de senhorinhas que não estavam contentes com o casamento e simplesmente abandoram o marido.

O que mais chama atenção é o “vilã”. Elas são consideradas assim porque foram egoístas e pensaram em si mesmas quando tomaram a decisão de ir embora de casa. Priorizaram o bem-estar, a própria felicidade, e seus objetivos, em detrimento da vontade ou expectativa dos outros.

Além de Martine, Josy conhece Christine, Denise, Catherine, e Claire. Todas mulheres que não esperaram ser largadas pelo marido e decidiram criar o próprio destino.

O CVL é um grupo de apoio a mulheres que se sentem perdidas, sem chão, e não sabem qual será o próximo passo. Ali estão entre amigas que apóiam umas às outras.

Ingrid Chabbert
QUANDO OS FILHOS TOMAM PARTIDO

Dias depois Josy decide marcar um encontro com Stéphanie. O que era para ser um diálogo agradável entre mãe e filha termina com agressões verbais. Sua filha não aceita que o casamento simplesmente terminou e que seus pais não se amam mais.

É normal quando os pais discutem, ou pensam em divórcio os filhos defenderem um dos lados. Quando meus pais se separaram eu era bem pequena. Conheci somente a versão da minha mãe. No entanto, durante bastante tempo “defendi” meu pai e quis saber o lado dele da história (o que nunca aconteceu porque não conversamos).

Fui criada dentro da igreja onde o casamento é para sempre. E por muito tempo pensei desse jeito. Porém, quando nos tornamos adultos é mais fácil entender porque certos relacionamentos simplesmente não dão certo. Minha irmã, por exemplo, se separou. E hoje é feliz com outra pessoa.

A linha é tênue entre se esforçar para um relacionamento dar certo quando ainda existe amor, e perceber quando a relação não tem mais futuro. Na minha cabeça de criança/adolescente eu esperava que meus pais se acertassem, eu esperava ter uma família “normal”. Mas o tempo me mostrou que nem sempre esse é o melhor caminho.

As vezes as pessoas são mais felizes separadas. É difícil aceitar isso, mas é preciso ter maturidade.

Além dos sentimentos pelo marido, Josy se sentia sufocada porque não fazia mais as coisas que a deixava feliz. Como aprender sobre plantas, escolher uma leitura, ou mesmo sentar num café e aproveitar a tarde. Quando se é casada a tanto tempo nos esquecemos como ser nós mesmas. O fato de ser um casal por vezes ofusca a individualidade. É importante ter consciência disso e manter-se único mesmo ao lado de outra pessoa.

A personalidade do indivíduo tende a ser líquida com o passar dos dias.

IMPRESSÕES FINAIS

A leitura de Sessenta Primaveras no Inverno apesar de rápida foi intensa e cheia de reflexões como disse anteriormente. Acredito que nunca é tarde para refletir sobre as próprias escolhas e decidir tomar um outro caminho. Viver numa outra cidade, conhecer pessoas diferentes, e ter novas experiências.

Muitas vezes ficamos condicionados ao que as pessoas esperam de nós, mas não priorizamos o que é importante pra nós. Como diz a Lara Nesteruk, é impossível ajudar o próximo se nós não estamos bem. Como faremos alguém feliz, como seremos uma boa companhia, se estamos perdidos ou infelizes?

Quando imaginamos que a história terminou, a autora nos surpreende com uma lição maior ainda. Confesso que fiquei surpresa nas duas vezes que li. Deixa o coração quentinho saber qual decisão foi melhor para Josy.

Bom, essa foi minha experiência lendo a mais nova HQ da Nemo. Espero que tenham gostado de conhecê-la. Se você curte o trabalho de ilustração de Aimée de Jongh, conheça também Dias de areia.

Agora me conta, você também gosta de Graphic Novels? Conhece alguma da Editora Nemo?

Até o próximo post, Érika <3

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