Carrie

Carrie, de Stephen King: reflexão sobre bullying e religião

Oi gente, como vocês estão? Por aqui, começei o ano saindo da zona de conforto e apostando em novas experiências. Me aventurei na leitura de Carrie, de Stephen King. Em grande estilo concordam?

Se você já ouviu falar de It, À espera de um milagre, Um sonho de liberdade, Cemitério maldito, Chamas da vingança, O telefone do Sr. Harrigan, Janela Secreta, O iluminado, Doutor Sono, e muitos outros, sabe que a fama do autor é justificada.

Apesar de já ter assistido a quase todas as adaptações, nunca tinha lido nenhum dos livros ou contos (não me julguem please). Então, quando a Editora Suma lançou a nova edição de Carrie, em capa dura, lindíssima, fiquei contando os dias para ler. E foi uma surpresa positiva!

Conhecendo Carrie

O livro narra a história de Carrie, uma típica adolescente americana que mora em Chamberlain, no Maine. Ela passaria despercebida entre muitas outras se não fosse pelo seu poder de telecinese, e também por ter uma mãe fanática religiosa.

Desde criança os coleguinhas implicam por Carrie ser diferente. Fazem chacotas, colam adesivos na sua roupa, jogam pasta de amendoim no seu cabelo, além das várias piadinhas sobre como se veste e seu cheiro. Sempre com mal odor como se não tomasse banho.

No último ano do ensino médio, após a aula de educação física, enquanto todas as meninas estão tomando banho, Carrie de repente começa a sangrar. Naquele instante ela pensa estar morrendo de hemorragia. Suas colegas de classe, no entanto, ao invés de ajudarem começam a rir e jogar coisas nela. Carrie está molhada, sangrando, e todas as meninas no banheiro estão caçoando dela.

A srta. Desjardim chega ao banheiro e não entende o motivo de tanta algazarra. Até que se depara com Carrie. Ao gritar para que termine seu banho rápido e troque de roupa não percebe que a adolescente não tem ideia do que está acontecendo. Então, a professora pede que as meninas saiam e fica cuidando de Carrie, porém com muito mau humor. Não consegue compreender porque a garota está histérica.

Carrie é dispensada e vai pra casa, quando sua mãe chega a repreende e a chama de impura, pecadora. Manda que se tranque no quarto e ore pedindo o perdão de Deus. A menina não entende porque sua mãe está tão nervosa e pede explicações. No entanto, ela diz que o sangue é sinal de impureza, de que fez algo errado.

Sue, uma das meninas que estavam no banheiro, sentindo-se culpada tem a brilhante ideia de pedir ao seu namorado que leve Carrie ao baile de primavera, para que “a esquisita” se enturme e faça amizades. Carrie aceita, mas sentindo que é uma pegadinha. O que era para ser uma noite divertida, mágica, regada a boas músicas se torna um pesadelo e vai marcar para sempre a pequena cidade de Chamberlain.

A escrita de Stephen King

Como disse ali em cima, esse foi meu primeiro contato com a escrita de Stephen King. Gostei bastante da narrativa, da maneira como ele usa de alguns artifícios para mesclar presente e passado. E também como construiu cada personagem. É interessante saber de onde veio a inspiração para desenvolver as características de Carrie. Muitos autores não mostram esse trajeto, então dificulta enxergarmos camadas e camadas de personalidade.

Algumas informações nos levam a crer que Carrie nem sempre foi assim. Seu jeito esquisito foi algo moldado ao longo do tempo por sua mãe, que é uma religiosa fervorosa e considera tudo obra do inimigo. Não sei porque, mas alguns momentos da leitura me fizeram lembrar da viúva Perpétua (novela Tieta). Porém, sem aquele tom cômico/engraçado da novela.

Sobre a influência da religião

Ser temente a Deus nos faz buscar o caminho do bem, dar bons exemplos, e viver em harmonia com aqueles que nos cercam. O fanatismo, por outro lado, torna as pessoas cegas, juízes da vida alheia, e sem humildade para reconhecer que todos estamos suscetíveis a erros. Viver com o dedo em riste julgando os outros não é um comportamento cristão, mesmo que estejamos certos.

Outras passagens me fizeram pensar na minha mãe. Cresci numa família católica, que ia à igreja toda semana, éramos coroinhas, meus pais participavam de grupos de casais, e durante algum tempo eu não pude fazer muitas coisas porque ia “desagradar a Deus”. Engraçado quando lembro que não me deixavam ouvir música internacional porque não sabiam o que “eles” estavam cantando e de acordo com meus pais isso era coisa do inimigo (risos).

Por morar em muitos lugares sempre tive contato com crianças de outras religiões. A família do menino que eu paquerava, por exemplo, era da Assembléia de Deus, a mãe dele detestava que tivéssemos amizade. Já a família que morava na outra rua era da Congregação Cristã. A minha melhor amiga frequentava a Igreja Batista. No meu colégio tinha um aluno que era espírita. Crescer nesse ambiente me fez ter conhecimento e empatia. Inclusive, depois de adulta frequentei a Igreja Batista em Londrina e gostei muito.

Uma reflexão sobre bullying

Além da religião, outro tema muito forte em Carrie é o bullying. Desde criança ela é considerada diferente, esquisita, estranha, e sem amigos. Tanto que os deboches vem desde quando ela estava no jardim de infância. E só piora com o passar dos anos. No entanto, ao invés de revidar, Carrie sempre se manteve neutra e ignorava as brincadeiras de mau gosto. Mas nutria dentro de si o desejo de ter amigos e ser aceita.

Quando eu estava no colégio, por me mudar sempre, acabei agregando sotaque de vários lugares, então as crianças achavam estranho e faziam brincadeiras comigo. “Por que ela fala estranho?” Hoje, já adulta tenho orgulho de tantas experiências que tive. Se fosse para fazer algo diferente, teria me mudado de cidade/casa mais vezes. Mas, naquela época por ser criança isso me incomodava. Até recebi alguns apelidos pelo sotaque diferente.

Essa situação me faz rir hoje. Quando estava no colegial foi a vez de fazerem brincadeiras com meus lábios carnudos. Juro! Ainda não conheciam a Angelina Jolie (risos). E isso me fez desejar durante um tempo ter os lábios menores. Eu sou baixinha, então qualquer coisa grande se destaca. E, no meu caso, eram os lábios. Um outro colega de classe era alvo também porque usava aparelho nos dentes. E advinha… a boca era enorme. Acho que naquela época os alunos tinham algum problema com a própria boca não é possível haha Porque implicar tanto com os lábios dos outros? Engraçado isso!

A evolução das brincadeiras nas escolas

Meus pais sempre me educaram a não brigar com ninguém. Provocar, fazer piadas, e coisas do tipo. No entanto, eu poderia me defender se alguém mexesse comigo. Apesar de meio sem paciência, eu nunca fui atrás de briga, nunca! Mas sempre tinha umas meninas chatas que implicavam comigo. Pelo meu cabelo, pelas roupas que minha mãe fazia pra mim, por não me misturar (sempre fui mais reservada), e elas não aceitavam isso. O que sobrava? Fazer piadas sobre mim.

Quando passei em Filosofia na faculdade, o próprio curso era motivo de bullying. Sabe no colégio quando se formam os grupinhos? Nerds. Patricinhas. Do fundão. Na faculdade esses grupos eram meio implícitos. Mas não era tão forte como no colégio. Difícil ver um grupo de Química com o pessoal de Artes ou Educação física, por exemplo. Eu tinha amizade com alunos de vários cursos porque já os conhecia do cursinho pré-vestibular. Então era mais fácil. Mas geralmente os grupos meio que se formavam sozinhos.

Apesar de, no colégio fazerem muitas brincadeiras, NADA se compara ao que fazem hoje. Lembro que todos éramos alvo em algum momento. Um boné estranho, um tênis diferente, um corte de cabelo que não ficou legal. Um amigo meu começou a namorar, a namorada é que “mandava” na relação, durante muito tempo ele era o alvo de piadinhas. Era muito engraçado confesso. Interessante que isso nunca levou ninguém a brigar, todos levavam numa boa onde eu estudava.

Bem diferente do que acontece hoje em várias escolas. Sempre fui contra violência, acredito que o diálogo é a melhor decisão. Mas porque ninguém faz nada para prevenir o que acontece em tantas escolas como nos EUA? Crianças e adolescentes são vítimas de bullying diariamente, mas as escolas só tomam consciência disso quando acontece um massacre. Como evitar que situações como essa não se tornem comuns?

Considerações finais

Acredito que conhecer a escrita de Stephen King começando por Carrie foi uma escolha positiva. Uma leitura intensa, que demorou mais tempo do que eu previa, no entanto, tem tantas nuances, que vale a pena se demorar um pouco mais em cada página. O autor intercalar trechos de livros, entrevistas, fatos científicos, me proporcionou uma experiência bem diferente do que estou acostumada. Não tenho muito contato com livros de terror, então achei bem tranquilo nesse quesito.

Pelo livro ter sido escrito a bastante tempo tem muitas palavras que não conhecia, acho incrível ler com o dicionário do lado e poder aumentar meu vocabulário. A ideia dos anexos foi bem criativa. É bom ler e conseguir imaginar cada cena, cada lugar, e a fisionomia dos personagens. Por falar em personagens, apesar de, Sue aparecer com frequência não a considero marcante. Talvez o namorado dela por ter feito uma “boa ação” (sem spoilers).

Então é isso, acho que me empolguei haha Espero que tenham gostado de ler até aqui. Agora me contem, conhecem a escrita de Stephen King? Já leram Carrie ou viram o filme?

Conheça outros livros da Companhia das Letras 🙂

Até o próximo post, Érika ♡


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14 Comentários

  1. Oie linda! Já vi o filme, mas ainda não li. Muito interessante ter essas reflexões sobre temas importantes no livro. Eu adorei a resenha… É so quem sofreu com bullying sabe como é difícil.
    Beijos!

  2. Oie! Tudo bem?
    Uma das minhas metas para esse ano é começar a conhecer a escrita do Stephen King. Porém, como sou muito medrosa, acho que esse não seria uma boa opção para eu começar. Pretendo ler primeiro algum livro “mais leve” dele. Mas sempre vejo muitos elogios para Carrie e acho muito interessante as reflexões que ele traz. Espero um dia criar coragem para ler rsrs. Amei a resenha e saber que sua experiência com o livro foi tão positiva.
    Beijos

  3. Aahhh, que delícia ver King aqui, Érika!! Cê sabe, né? Sou fiel seguidora do Mestre. heheehe Ótimo seu primeiro contato ter sido com Carrie (pelo fato dele ser ainda um cara novo, inexperiente, e com muito caminho pela frente), seu primeiro livro publicado. Acredito que se você topar novas aventuras, irá conseguir perceber as evoluções da escrita, e a construção do Universo Kinguiano. Adorei suas considerações, e os adendos, claro! Sempre muito rico ler suas resenhas.
    Assim como você, eu me mudei inúmeras vezes. Estados e cidades diferentes. Sotaque mudando a cada mudança, risadas, perguntas, apelidos! Passei por tudo isso.. hahahaha Também tenho bocão, e pra piorar, muito seio. Só que não sei, talvez porque eu sou bem de boa, e fácil de fazer amizades, nunca sofri bullying propriamente dito. Ou apenas aquilo não me incomodava, e as pessoas simplesmente deixavam pra lá. hahahahaha
    Eu sou Batista, meu pai é pastor, e por isso nos mudamos muito. Inclusive, o pastor que hoje está na Batista de Londrina, é discípulo do meu pai, e amigo nosso, da época da minha adolescência. Mundão pequeno!!!
    Té mais. Ansiosa pela próxima visita aqui…

  4. Oie!! Que resenha bacana! É bom demais quando uma leitura desperta reflexaoes sobre temas importantes sobre o nosso dia a dia , não é!? Voce me fez ver o autor por outra perspectiva.. Sempre que lia algo sobre ele o tema terror era a única coisa em destaque, mas o seu texto destaca os outros aspectos também, fiquei com aquela vontadezinha de ler, Rssrs

    Muito grata pela sua partilha!

  5. Essa nova edição de Carrie é um escândalo de linda, né?!?!? Lembro-me do impacto que esse livro me causou ao lê-lo a primeira vez e o curioso é que há uns três ano fui ler novamente e achei engraçado justamente porque ficava lembrando sobre como fiquei impactada com a primeira leitura.

  6. Oi Erika, eu nunca li os livros do King, então não te julgo, haha. Em relação à sua resenha, eu sofria mt bullying na escola tb, por ser gorda. Hoje ouço piadinhas por ser magra (gostaria de saber pq as pessoas gostam de arranjar defeito em tudo). Eu acho que esse livro te trouxe reflexões além da própria história, o que foi bom, e vendo que foi escrito há tanto tempo, mas até hoje não mudou muita coisa, né? Ainda precisamos aprender muito sobre respeito ao próximo.
    Bjks!

  7. Olá, tudo bem? Gostei de saber que o King consegue abordar temas importantes nos seus livros. Nunca li nada dele, apesar de sempre ter ouvido elogios e pensar em um dia me aventurar. Talvez, seja o certo começar por Carrie. Excelente resenha e dica anotada!
    Beijos

  8. Olá,
    Nunca é tarde para se aventurar nas obras do King e que bom que essa experiência foi positiva para você, olha só quantas reflexões ela trouxe e como você conseguiu interligar com situações de sua vida, parecia até que eu estava em um clube de leitura lendo a sua resenha. Eu sempre via esse filme na tv, mas só muito depois que fui ler a obra e realmente, vale a pena. Sobre os temas, é muito complicado o bullying, principalmente porque são questões muito individuais, o que afeta fortemente você pode não me afetar na mesma forma e isso gera tantas situações de sofrimento diversas. Engraçado que na última resenha que eu fiz citei essa obra do king, pois claramente há uma inferência a ela. Enfim, espero que você tenha mais experiências com as obras literárias do King. (Os filmes eu também adoro).

  9. Olá, Li a pouco tempo Carrie e como já li muitos outros livros do King não acho que este seja aterrorizante, gosto das questões que ele traz como fanatismo e bullying.

  10. Também já assisti várias adaptações, mas li somente O iluminado e Doutor Sono. Achei a experiência da leitura fascinante, por isso quero ler todos os livros assim que puder. Acho que é a melhor forma de realmente captar a essência do autor. Também gosto de conhecer e respeito todas as religiões. É muito bom quando conseguimos abrir a história do livro e fazer ligações com a vida real.

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